Ponto de não-retorno da degradação já é inevitável em algumas áreas da Amazônia

Amazônia ponto de não retorno

Ainda há tempo para salvarmos boa parte da floresta amazônica do risco de um colapso ecossistêmico motivado pelo desmatamento. No entanto, de acordo com um novo estudo divulgado nesta 2ª feira (5/9), Dia da Amazônia, partes do bioma já estão além de qualquer salvação, com um alto índice de degradação ambiental que impede a recuperação natural da floresta. “O ponto de inflexão não é um cenário futuro, mas uma etapa já presente em algumas áreas da região. Brasil e Bolívia concentram 90% de todo o desmatamento e degradação combinados. Como resultado, a ‘savanização’ já está ocorrendo em ambos os países”.

O estudo foi feito por pesquisadores da Rede Amazônica de Informações Socioambientais Georreferenciadas (RAISG) com a Coordenadoria de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) e a Stand.Earth, no âmbito do projeto Amazônia para a Vida: Proteger 80% até 2025. Ele faz um raio-x da situação de conservação da Pan-Amazônia e oferece caminhos para que os países da região possam aumentar sua proteção e ampliar o total de área florestal nativa para 80% ainda nesta década.

“Há uma metamorfose ocorrendo na Amazônia que, pelas mudanças e atividades antrópicas, está acelerando a transformação das funções ambientais do bioma”, assinalou Marlene Quintanilla, coordenadora do estudo, à Agência Pública. “Algumas coisas que sempre destacamos sobre a Amazônia – que ela funcionava como purificador do ar e tinha função de regulação climática – estão mudando. As pesquisas científicas mostram que as secas extremas e os incêndios estão gerando muita mortalidade de árvores e isso, por sua vez, emite muito dióxido de carbono. A função ambiental da Amazônia está mudando de maneira negativa”.

Uma das medidas sugeridas para barrar a degradação ambiental é velha conhecida de quem estuda desmatamento na Amazônia: demarcar Terras Indígenas, com apoio às comunidades locais para que elas possam viver e proteger essas áreas. De acordo com a análise, 86% de todo o desmatamento amazônico aconteceu fora de Territórios Indígenas e Áreas Protegidas (APs), a despeito de eles abrangerem menos da metade (48%) de todo o bioma amazônico. 

“Os meios de vida e a cultura tradicional dos Povos Indígenas da Amazônia são muito mais compatíveis com sua conservação do que qualquer outra estratégia que se está implementando. Por isso devemos valorizar mais os territórios indígenas e encará-los como nossos melhores aliados para proteger a Amazônia, pois ela não interessa apenas a nós que nela vivemos, mas se trata da regulação climática global”, disse Quintanilla.

O Guardian também repercutiu as considerações do estudo.

Em tempo: A Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, no Acre, sofre com uma ameaça dupla – o descaso completo do poder público local e o avanço de projetos legislativos que pretendem diminuir sua área. “O governo local não dá nenhuma resposta a isso, porque ele tem uma relação muito íntima com o setor do agronegócio, que é justamente o setor que está por trás da articulação do PL [projeto de lei 6.024/2019, apresentado pela deputada Mara Rocha na Câmara dos Deputados]” disse a ativista Ângela Mendes, filha mais velha do ambientalista Chico Mendes, à Folha. Ela também destacou a insegurança que os defensores da floresta e de seus povos estão sofrendo nos últimos tempos, que ganhou repercussão há três meses com os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips no Vale do Javari.

 

ClimaInfo, 6 de setembro de 2022.

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