UE mira indústria fóssil em busca de recursos para aliviar preço da energia

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REUTERS/Phil Noble

A Comissão Europeia quer cobrar da indústria de combustíveis fósseis uma “taxa de solidariedade” sobre os lucros recordes obtidos pelo setor nos últimos meses para financiar esforços de redução do preço da energia para os consumidores da União Europeia. De acordo com a Reuters, as empresas de petróleo, gás, carvão e refino teriam que fazer uma contribuição financeira baseada nos lucros excedentes tributáveis obtidos no ano fiscal de 2022. “Esses lucros não correspondem a nenhum lucro regular que essas entidades teriam ou poderiam esperar obter em circunstâncias normais”, diz um esboço do projeto.

Outra medida em discussão é a imposição de uma meta obrigatória para redução do consumo de energia para os países da UE. A ideia é reduzir a demanda nos próximos meses, de maneira a economizar os estoques de gás natural já acumulados até aqui e garantir o abastecimento necessário durante o inverno. “O aumento dramático nos preços da eletricidade que estamos observando está pressionando as famílias, pequenas e médias empresas e a indústria, e corre o risco de causar danos sociais e econômicos mais amplos”, cita a Bloomberg. “Este contexto econômico exige uma resposta rápida e coordenada em toda a UE”.

A indústria pesada europeia já está tentando cortar por conta própria seu consumo de energia. O Financial Times noticiou que várias siderúrgicas, incluindo a ArcelorMittal, anunciaram nos últimos dias planos para desativar alguns de seus altos-fornos a partir do fim deste mês. O setor já trabalha com a possibilidade de um racionamento de energia durante o inverno em alguns países da UE. As empresas também fazem as contas do impacto econômico que essa redução forçada na produção poderá acarretar, bem como seus reflexos na economia europeia como um todo. O Valor publicou uma tradução da reportagem.

Enquanto isso, parceiros europeus e a ONU olham com dúvidas a movimentação da UE e de alguns países do bloco na crise energética. A CNN, por exemplo, noticiou o temor do governo de Joe Biden nos EUA de que um prolongamento da crise energética até o inverno possa fragmentar a unidade da UE na questão da Ucrânia. “A aposta de Putin é que ele vai ser mais duro que os ucranianos, os europeus e os norte-americanos, que ele pode desgastar os ucranianos, estrangular a economia deles, [e que] os europeus, enfrentando o que vai ser um inverno difícil com preços mais altos da energia, vão perder a determinação”, disse o diretor da CIA, William Burns.

Já a Associated Press destacou a cobrança feita pela alto-comissária interina da ONU para Direitos Humanos, Nada al-Nashif, para que os países da UE não “retrocedam” em seus esforços para transição energética. “Diante dos preços crescentes da energia que ameaçam impactar os mais vulneráveis à medida que o inverno se aproxima, alguns estados-membros da UE estão se voltando para investimentos em infraestrutura e suprimentos de combustíveis fósseis”, disse. “Não há espaço para retroceder diante da crise climática em curso”.

 

ClimaInfo, 13 de setembro de 2022.

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