Garimpeiros reagem contra ação da PF e ameaçam indígenas no Pará

Povos Indígenas ameaçados
Ascom Semas/Divulgação

Indígenas e lideranças locais do município de Novo Progresso (PA) receberam cartas com ameaças de morte na última semana, informou o Estadão.

De acordo com a reportagem, as ameaças teriam acontecido logo após a Polícia Federal realizar diversas ações de combate ao garimpo ilegal nas Terras Baú e Mekrãgnotí. Um dos alvos foi o Instituto Kabu, organização indígena que atua pela proteção do Povo Kayapó Mekrãgnotí no sul do Pará. 

Em uma das cartas, o autor culpa os Povos Indígenas pelas operações da PF e dá um prazo de dez dias para que os indígenas deixem a área, caso contrário “sofrerão as consequências com as próprias vidas”.

O texto também direciona ameaças a um indigenista, de apelido “Paulão”, que atua como consultor dos indígenas do Instituto Kabu. “Por causa de vocês, seus vagabundos, nós do [Novo] Progresso e Castelo [dos Sonhos] e região tomamos grandes prejuízos entre caminhões de madeira, escavadeira e os maquinários do garimpo. Vocês são culpados disso, chamando a atenção das autoridades”, diz o autor da carta.

Em nota, o Instituto Kabu repudiou as ameaças e afirmou que alertou as autoridades públicas para que investiguem a questão. “Ameaças a nossos integrantes e colaboradores (…) são tentativas deliberadas de desviar a atenção e de incitar a população contra uma associação indígena idônea”.

Em tempo 1: Os indígenas da Terra Alto Turiaçu, no Maranhão, especulam há meses sobre as circunstâncias da morte de um de seus líderes, Sarapó Ka’apor, enquanto a Polícia Federal não desvenda o caso. Para eles, uma suspeita óbvia está no garimpo ilegal que avança indiscriminadamente no território: Sarapó encabeçou missões indígenas para expulsar garimpeiros e era alvo constante de ameaças de morte desde 2013, quando ajudou a construir um sistema de vigilância e autodefesa indígena contra invasores, semelhante aos do Povo Guajajara nas redondezas. O Repórter Brasil abordou a situação dos Ka’apor e a preparação deles para o que pode ser uma “guerra” contra os garimpeiros. “A gente não pode ficar triste, a gente não pode se entregar. A gente tem que se defender e defender o território”, afirmou o indígena Itahu Ka’apor.

Em tempo 2: A criatividade do governo federal para facilitar a vida dos criminosos ambientais não tem limites. O pesquisador Raoni Rajão (UFMG) chamou a atenção no Twitter para um edital de “empreendedorismo verde” da Agência Nacional de Mineração (ANM) que, curiosamente, abre espaço para exploração mineral em áreas que já estão sendo garimpadas de maneira ilegal. Ou seja, além de regularizar as lavras ilegais, a ANM quer garantir a impunidade dos garimpeiros.

 

ClimaInfo, 19 de setembro de 2022.

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