Verde em público, fóssil nos bastidores: o greenwashing da indústria do petróleo nos EUA

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Nick Smyth/Alamy

Uma comissão da Câmara dos Representantes nos EUA obteve documentos de empresas petroleiras e suas parceiras de relações públicas que revelaram como a indústria dos combustíveis fósseis atuou para esconder o risco da mudança do clima causada pela queima de seus produtos. A estratégia não é exatamente antiga nem desconhecida, mas o que surpreende é que ela vinha sendo utilizada até bem pouco tempo atrás.

O NY Times destacou o caso da ExxonMobil: um documento de 2019 mostrou que a pressão da empresa para remover uma citação ao Acordo de Paris no comunicado de uma iniciativa “climática” do setor de óleo e gás. Já na concorrente Shell, um email de outubro de 2020 com pontos para discussão com o presidente da petroleira nos EUA disse explicitamente que a política de descarbonização anunciada pela empresa naquele ano “não tem nada a ver com nossos planos de negócio”.

De acordo com o levantamento feito conjuntamente pela comissão de supervisão e reforma e pelo subcomitê de meio ambiente da Câmara norte-americana, as cinco maiores empresas de petróleo e gás de capital aberto gastaram US$ 1 bilhão para promover a desinformação sobre a crise climática por meio de ações de branding e lobby. O documento destaca esse último ponto como um dos mecanismos mais utilizados pelo setor para interferir no debate público sobre clima, não apenas com representantes políticos no Congresso dos EUA, mas também em outros países.

“Estamos profundamente preocupados com o fato de a indústria de combustíveis fósseis ter colhido enormes lucros por décadas enquanto contribui para a mudança do clima”, diz o relatório, assinado pelos deputados Carolyn Maloney e Ro Khanna, ambos do Partido Democrata do presidente Joe Biden. “Também estamos preocupados que, para proteger esses lucros, a indústria tenha liderado um esforço coordenado para espalhar desinformação para enganar o público e impedir ações cruciais para lidar com as mudanças climáticas”.

As revelações foram destacadas na imprensa internacional, com reportagens no Democracy Now!, Guardian, Inside Climate News, Reuters e The Intercept, entre outros veículos.

Em tempo: A Organização Mundial da Saúde (OMS), junto com outras 200 associações de saúde, fez um apelo à comunidade internacional em prol de esforços para conter e reduzir o consumo de combustíveis fósseis. A declaração pede que os governos negociem e implementem um plano internacional, com metas obrigatórias, para eliminar gradualmente a exploração, a produção e o consumo de combustíveis fósseis, em um instrumento semelhante à convenção da OMS sobre o tabaco, de 2003. A proposta lembra o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), no qual os países se comprometeram a não desenvolver armamentos nucleares. “O vício moderno em combustíveis fósseis não é apenas um ato de vandalismo ambiental. Do ponto de vista da saúde, é um ato de autossabotagem”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMC. A notícia é do Guardian.

 

ClimaInfo, 20 de setembro de 2022.

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