Ativistas pedem renúncia do presidente do Banco Mundial por negacionismo climático

David Malpass negacionista
REUTERS/Mike Theiler

Donald Trump não está mais na Casa Branca – ao menos, por enquanto (bata na madeira três vezes) – mas ele deixou uma lembrança no comando do Banco Mundial: David Malpass, que preside a entidade desde 2019, indicado pelo então presidente dos EUA. O governo mudou, a maré virou, e Malpass se vê agora cercado por críticas cada vez mais acentuadas à sua gestão na área climática – e, bem ao estilo do ex-presidente, piorou a situação com um deslize da própria língua.

Em evento organizado pelo NY Times durante a Climate Week em Nova York, Malpass deu uma resposta no mínimo atravessada ao ser questionado se concordava com o consenso científico de que as mudanças climáticas estão sendo causadas pelo acúmulo de gases de efeito estufa liberados pelos seres humanos na atmosfera. “Não sei, não sou cientista”, disse. Foi o bastante para que cientistas e representantes da sociedade civil protestassem duramente contra o presidente do Banco Mundial, pedindo sua renúncia do posto. Até mesmo ex-diplomatas e negociadores se posicionaram publicamente contra Malpass.

“Como isso é possível em 2022? Essa apatia produz uma ação climática fraca quando os países precisam tanto de ajuda e finanças do Banco”, reclamou Laurence Tubiana, ex-negociadora-chefe da França e uma das arquitetas do Acordo de Paris. “É simples. Se você não entende a ameaça da mudança do clima para os países em desenvolvimento, você não pode liderar a principal instituição internacional de desenvolvimento”, comentou Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da UNFCCC e outro nome central nas negociações da COP21 em 2015.

Nesta 5ª feira (22/9), Malpass tentou diminuir o prejuízo. Em entrevista à CNN, ele afirmou que reconhece a responsabilidade humana pela crise climática, tal como apontada pela ciência, e rejeitou a acusação de que seja um “negacionista”. O NY Times também divulgou trechos de um memorando interno do Banco Mundial no qual Malpass reforça a conexão entre as emissões de carbono liberadas pela queima de combustíveis fósseis e sua concentração crescente na atmosfera e os efeitos disso sobre os padrões climáticos globais.

Resta saber se o mea culpa será capaz de resolver um problema que vem desde o começo da gestão de Malpass no Banco Mundial. Críticos apontam que a instituição segue tropeçando em seus critérios e práticas para financiamento de projetos de desenvolvimento nos países pobres, privilegiando investimentos baseados em combustíveis fósseis.

AFP, Bloomberg, Climate Home, Financial Times e Reuters repercutiram o deslize negacionista do presidente do Banco Mundial.

 

ClimaInfo, 23 de setembro de 2022.

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