Agro mantém apoio a Bolsonaro, mas não rejeita sinalizações de Lula

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Agência Brasil / Heuler Andrey / Getty

A corrida acirrada pela Presidência da República tornou o agronegócio na “noiva” em disputa pelos candidatos. O grosso do setor segue inabalável ao lado de Jair Bolsonaro em sua campanha pela reeleição, vitaminado pelas vitórias no Congresso Nacional. Mas os ruralistas não estão ignorando os sinais dados pelo ex-presidente Lula em seu esforço para retomar o diálogo político com o setor.

Um dos alvos da “ofensiva de charme” de Lula para com o agro é o dos produtores de etanol e biodiesel. De acordo com o Estadão, emissários do ex-presidente conversaram com representantes do setor para identificar pontos nos quais esses produtores não se sentem devidamente representados sob o atual governo.

Enquanto a indústria de biodiesel defende a volta do percentual de 15% na mistura com o diesel comum já no próximo ano, as empresas de etanol querem preservar o RenovaBio.

Em público, Lula também busca diminuir a antipatia do agronegócio em geral com sua candidatura. Nesta 2a feira (10/10), o ex-presidente defendeu uma dissociação entre o setor como um todo e aqueles dentro dele que recorrem à ilegalidade: “Os bandidos são aqueles que não respeitam a questão ambiental, são aqueles que querem desmatar, e esses caras não podem ser confundidos como gente do agronegócio”, disse o candidato do PT, citado pelo Estadão.

No entanto, Lula está bem atrás de Bolsonaro nas alianças políticas com o agro. Como ((o)) eco destacou, a Frente Parlamentar da Agropecuária declarou apoio oficial ao atual presidente neste 2o turno. Os ruralistas ganharam um poder inédito sob Bolsonaro e, nesta eleição, obtiveram vitórias importantes nas disputas pela Câmara e pelo Senado. Tanto que um dos nomes preferidos da bancada – e ensaiados pelo presidente caso ele se reeleja – para comandar o Congresso Nacional na próxima legislatura é o da ex-ministra Tereza Cristina, eleita senadora por Mato Grosso.

No cenário ideal para os ruralistas, uma eventual reeleição de Bolsonaro daria ainda mais força para o agro “passar a boiada” sem o menor constrangimento sobre as políticas ambientais. Isso pode parecer interessante para eles no curto prazo, pautados no imediatismo e no oportunismo de alguns, mas pode sair caro – muito caro – para eles próprios e para a economia brasileira no futuro. Esse é o alerta do ex-ministro Roberto Rodrigues, titular da agricultura no 1o mandato de Lula (2003-6), dado em entrevista à BBC Brasil.

Para ele, duas movimentações internacionais podem trazer dor de cabeça para os produtores rurais do país: um possível acordo para restringir a compra de soja de áreas desmatadas do Cerrado brasileiro a partir de 2025, e a imposição de barreiras à entrada de commodities agrícolas na União Europeia oriundas de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2019. 

“O boicote [aos produtos agrícolas brasileiros] é um risco que pode ser implementado se nós não cuidarmos do que é essencial: acabar com ilegalidades”, disse Rodrigues. “Qualquer que seja o governo em janeiro, a questão ambiental tem que ser tratada com muita atenção, muito zelo, sob pena de o país perder espaço [no comércio internacional]”.

Resta saber se isso estará no radar dos congressistas a partir de 2023. Afinal, como assinalou a Repórter Brasil, dos dez deputados com pior desempenho socioambiental nas proposições e votações na Câmara dos Deputados nesta legislatura, oito se reelegeram. Ao todo, o índice de reeleição desses parlamentares em 2022 foi de 66%. Ou seja, esperar mais do mesmo na próxima legislatura não é um absurdo.

 

ClimaInfo, 13 de outubro de 2022.

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