Bancos tentam se distanciar de compromissos climáticos sérios

Bancos compromissos climáticos
Ramon Keimig for Bloomberg Green

Os pesos pesados do setor financeiro deram muitos passos para trás em seus compromissos climáticos. Na esteira da reunião de Glasgow, o grupo autodenominado GFANZ (Aliança Financeira de Glasgow para o Net-Zero ) anunciou que trabalhariam para que seus portfólios ficassem neutros em emissões, o tal do net-zero. Não durou nem 1 ano. Com a invasão da Ucrânia, o preço dos fósseis disparou e os europeus colocaram a segurança energética no alto de suas prioridades. Assim, segundo a Bloomberg, a turma formada por JPMorgan, Bank of America e Morgan Stanley, dentre outros grandes, avisaram que pretendem sair da Aliança. Afinal, como disse um analista “embora sob uma perspectiva ética ou ideológica muitas pessoas possam não gostar da idéia de investir em combustíveis fósseis, certamente não é ilegal”, disse Harald Walkate, ex-executivo da Natixis Investment Managers, “E pode, de fato, ser um negócio muito bom por algum tempo.” Outra matéria, também da Bloomberg, conta da tensão entre esse grupo do GFANZ e a iniciativa Race to Zero, patrocinada pela ONU. A expectativa é que o grupo acabe enfraquecendo seus compromissos junto à GFANZ e abandonem os laços com a Race to Zero. Já o Financial Times também falou sobre este cisma. Segundo Justin Guay do Projeto Sunrise “os bancos ficaram felizes em participar de um grande concurso de beleza na COP26 e receber um monte de aplausos. Mas quando perceberam que o mundo esperava que eles fizessem o que disseram que fariam, procuraram desculpas convenientes para se livrarem dessa responsabilidade”.

Nos primeiros 9 meses deste ano, o setor fóssil captou mais de US$ 300 bilhões em empréstimos dos grandes bancos, 15% a mais do que no mesmo período no ano passado. Só este ano, eles faturaram mais de US$ 1 bilhão destas operações, repetindo o que aconteceu em 2021.

Para efeito de comparação, uma matéria da Reuters cita que, no ano passado, os bancos multilaterais de desenvolvimento como o Banco Mundial e o Banco Europeu de Investimento, emprestaram R$ 82 bilhões para as fontes renováveis. Embora isso represente um aumento de 24% em relação a 2020, ainda é menos de ⅓ dos que os bancos privados emprestaram ao setor fóssil.

Em tempo: Além dessa dança de compromissos, persistem dúvidas importantes sobre a seriedade e a abrangência deles. De Glasgow para cá, a palavra “integridade” passou a ser título de inúmeros estudos, papers e declarações. António Guterres, secretário geral da ONU, criou o HLEG (Grupo de Especialistas de Alto Nível sobre os Compromissos Net-Zero de Entidades não Estatais). No começo do mês, a SEI (Instituto Ambiental de Estocolmo) publicou uma série de recomendações para o HELG agrupadas segundo requisitos para divulgar dados relacionados com a sustentabilidade, regulações confiáveis de publicidade e programas de certificação e reconhecimento por parte de governos e por eles liderados.

 

ClimaInfo, 18 de outubro de 2022.

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