A essa altura, já devia estar claro para o eleitorado brasileiro que boa parte das falas do presidente Jair Bolsonaro tem o mesmo valor de uma escritura de terreno na Lua. Mas, como o resultado do 1º turno mostrou, ainda tem muita gente que cai nessas ladainhas. Uma das lorotas mais repetidas por ele nesta campanha é que a demarcação de novas Terras Indígenas, que ele estima ser quase 500, “praticamente acabaria com o agronegócio”. Pois bem, isso é falso.
O InfoAmazonia trouxe dados do Instituto Socioambiental (ISA) que destrincham essa mentira. Primeiro, não existem 500 pedidos de novas Terras na fila da demarcação, mas sim 240. Dos 728 processos de demarcação formalmente iniciados pela FUNAI, quase 67% já foram concluídos.
Além disso, a demarcação de áreas indígenas não trouxe qualquer efeito sobre a pujança do agronegócio nos principais estados produtores do país: entre os nove com maior peso na produção agrícola nacional, em sete deles o percentual de território ocupado por essas reservas não passa de 1%. No Mato Grosso, maior produtor agropecuário do país, esse percentual é de 16%.
A reportagem lembrou também que a área destinada à ocupação indígena no Brasil é de 13,7% do território nacional, abaixo da média mundial (15%), enquanto 41% (três vezes mais) são áreas privadas, de acordo com dados do Censo Agropecuário de 2017 do IBGE.
Em tempo 1: A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados entrou com uma representação no Ministério Público Federal contra o presidente da FUNAI, Marcelo Xavier da Silva, e o coordenador regional da entidade em Barra do Garças (MT), capital Álvaro Carvalho Peres. A representação acontece depois do Intercept Brasil e O Joio e o Trigo revelarem o áudio de uma conversa de Peres com representantes indígenas e outros servidores na qual ele disse que a direção da FUNAI pretendia publicar uma diretiva para legalizar a exploração de ouro e madeira em Terras Indígenas, contrariando a Constituição.
Em tempo 2: O Ministério Público Federal ingressou ontem (25) com uma ação civil pública, com pedido liminar, para que a Justiça Federal obrigue a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a sepultar o corpo do “Índio do Buraco” – o último nativo do povo Tanaru – na Terra Indígena Tanaru, em Rondônia. A notícia é do g1. O MPF precisou intervir porque a FUNAI não autorizava o sepultamento, mesmo com pedidos de indigenistas e representantes indígenas, como detalha o Estadão em matéria que também relata a história do extermínio desse Povo.
ClimaInfo, 26 de outubro de 2022.
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