Perdas e danos: apesar de discussão, países ricos e pobres seguem divididos

COP27 perdas e danos
Erik De Castro/Reuters

Celebrada como o primeiro resultado substancial da COP27, a inclusão do tema de perdas e danos na agenda oficial de Sharm el-Sheikh foi apenas o capítulo inicial de uma novela que promete ser bastante dramática. Isso porque, apesar da discussão estar formalmente aberta, o posicionamento geral de países ricos e pobres segue o mesmo.

Por um lado, as nações em desenvolvimento mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos exigem algum mecanismo de compensação financeira por perdas e danos. Por outro, as nações desenvolvidas continuam reticentes a assumir novos compromissos financeiros.

No Financial Times, Pilita Clark assinalou a dificuldade que os países desenvolvidos terão para adiar uma definição sobre perdas e danos para o próximo ano. Para ela, os países pobres e vulneráveis podem ter atingido seu limite com a inação dos parceiros desenvolvidos, já que a intensificação recente dos eventos extremos não esteve acompanhada por qualquer medida que aliviasse o impacto socioeconômico desses desastres.

“Pode-se chegar a um compromisso [sobre perdas e danos] em Sharm el-Sheikh? Se a história é uma guia, essa é uma chance pequena. Mas, da mesma forma, também é pequena a chance de que algum tipo de financiamento para perdas e danos possa ser novamente empurrado pelos países por mais um ano”, escreveu Clark.

A principal justificativa dos países ricos para não se comprometer com novas promessas financeiras para perdas e danos é que isso poderia, de alguma forma, expor esses governos a requisições irreais de reparação financeira, com pedidos exorbitantes de compensação pelos países pobres.

No entanto, como bem assinalou o presidente do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, na COP27, o despejo de bilhões de euros dos países europeus em ajuda militar à Ucrânia tornou esse argumento mais difícil de ser engolido.

“Enquanto esses países consideram adequado esperar para fazer suas contribuições climáticas, eles parecem não ter tido qualquer dúvida ao gastar nos dois lados da guerra”, disse Wickremesinghe, citado pela Reuters

“A necessidade de financiamento por perdas e danos não pode mais ser negada”, destacou a revista Science em editorial. “No entanto, ele não deve se tornar uma questão divisiva, que separa países. Se isso acontecer, a COP27 e as próximas cúpulas climáticas correm o risco de fracassar”.

Em tempo: Ainda sobre perdas e danos, o professor Saleemul Hub, da Independent University de Bangladesh e um dos principais especialistas no tema, contextualizou na Bloomberg como a compensação pode se encaixar no framework geral do financiamento climático. Para ele, perdas e danos seria uma 3ª abordagem de ação climática, a última em uma escala que inclui mitigação (evitar o problema climático) e adaptação (minimizar seus efeitos). “Essas etapas ficam progressivamente mais caras. O mais barato é reduzir emissões, seguido de adaptação às condições de aquecimento. De longe, o mais caro será compensar a perda de vida e biodiversidade”, explicou.

 

ClimaInfo, 9 de novembro de 2022.

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