Jovens na COP27: “Adultos não querem nos escutar sobre crise climática”

jovens na COP27
AP Photo/Brittainy Newman

Se as últimas Conferências do Clima foram marcadas pela forte presença de jovens ativistas climáticos e sua pressão sobre uma estrutura de negociações forjada antes de nascerem, na COP27 esses mesmos jovens não causaram o mesmo impacto. Mesmo admitindo que a participação deva continuar, muitos olham com desalento as aparentemente intermináveis conversas realizadas no encontro da ONU, em claro descompasso com as alterações climáticas em curso, que se aceleram a cada dia.

A frustração é patente entre os 130 ativistas ouvidos pela agência de notícias Associated Press em matéria replicada aqui pelo Valor. Frases como “Eu sinto sinceramente que os adultos não estão escutando” e “Em vez de falar sobre como resolver a crise climática, eles negociam como continuar poluindo” resumem o choque entre a ação prática que esses jovens buscam e praticam e o ambiente burocrático da diplomacia internacional. De acordo com a reportagem, a grande maioria dos jovens ativistas concorda com Greta Thunberg, que classificou as negociações climáticas como muito “blá blá blá” e nenhuma ação – e que este ano não foi à conferência.

A forma como o país-sede da COP27 lida com ativistas em geral – abafando, ameaçando e, em muitos casos, levando à prisão – também ajuda a minimizar essas vozes, como afirma em editorial o Instituto Tahir de Políticas do Oriente Médio. Antes mesmo de a conferência começar, relatos de pedidos de participação foram negados e a esperada Marcha pelo Clima, que costuma acontecer nas ruas da cidade que recebe o evento, foi relegada a algumas dezenas de pessoas que andaram poucos metros dentro da própria COP.

Ainda assim, outros jovens, mesmo sabendo que a resistência a mudanças é alta, assim como o carbonwashing, acreditam ser necessário ocupar o espaço. Pela primeira vez, os jovens têm um pavilhão dentro da COP, um dos locais mais animados e movimentados. Do Brasil, um grupo de ativistas representa diferentes biomas, como Anderson Costa, de 22 anos. “O sertão onde cresci já não está mais como era antes. O ativismo para mim não é só uma escolha, mas também uma responsabilidade”, afirmou para O Estado de S.Paulo. A queniana Mana Omar, de 27, disse para a BBC que decidiu ir à COP27 para levar a voz de sua comunidade, duramente afetada por secas. “Suas vozes são totalmente desconhecidas, eles vivem em áreas sem internet. Eu só espero fazer o meu melhor para trazer suas mensagens para cá.”

Em tempo: A urgência a que os jovens se referem é real. Enquanto as negociações na COP27 andam devagar, quase parando, especialmente na agenda de perdas e danos, Fiji corre para realocar 42 vilas que estão sob risco iminente devido a eventos climáticos extremos. Quatro já foram movidas de lugar; as demais devem seguir o mesmo caminho nos próximos cinco a dez anos. O ambicioso plano é descrito no jornal britânico The Guardian. O embaixador do país na ONU, Satyendra Prasad, lista o tamanho do desafio: além de casas, é preciso garantir também escolas, centros de saúde, estradas, eletricidade, água potável, infraestrutura, igrejas. “E, mesmo quando consegue tudo, você ainda precisa realocar as covas dos cemitérios. Tente fazer isso.”

 

ClimaInfo, 17 de novembro de 2022.

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