Arábia Saudita usa estratégia publicitária e diplomática contra transição energética

Arábia Saudita transição energética
Tom Stoddart / Hulton

A Conferência do Clima da ONU deste ano (COP27) aconteceu no sul do Sinai, no Egito – tecnicamente, um país africano. No entanto, para quem circulava nas ruas de Sharm el-Sheikh, a presença mais forte dentro e fora dos espaços oficiais não era a dos países africanos, mas a de um vizinho egípcio com quem ele compartilha o Mar Vermelho – a Arábia Saudita.

Na COP27, os sauditas apostaram pesado em uma estratégia que mescla relações públicas e lobby político em favor de sua principal (e única) commodity: o petróleo. Não à toa, o resultado final da Conferência trouxe um enfraquecimento lamentável de sua linguagem para a transição energética, diminuindo a urgência de se abandonar o quanto antes a queima de combustíveis fósseis.

O NY Times abordou a estratégia saudita. Do lado de fora da blue zone da COP27, Riad montou uma megaestrutura na qual destacou os planos de seu governo para uma economia verde com freio de mão puxado na redução do consumo de energia fóssil. Mas isso não se restringe à COP climática.

“O plano do reino de manter o petróleo no centro da economia global está se concretizando em todo o mundo nas atividades financeiras e diplomáticas sauditas, bem como nas áreas de pesquisa, tecnologia e até educação. É uma estratégia que está em desacordo com o consenso científico de que o mundo deve se afastar rapidamente dos combustíveis fósseis, incluindo petróleo e gás, para evitar as piores consequências do aquecimento global”, escreveu o jornal norte-americano.

Dentro da COP27, a Arábia Saudita foi uma das principais adversárias de qualquer alusão no texto final ao fim do consumo de energia fóssil, no que foi apoiada pela Rússia. “É mais do que frustrante ver os passos atrasados em mitigação e eliminação das energias fósseis sendo obstruídos por uma série de grandes emissões e produtores e petróleo”, lamentou a ministra alemã do exterior, Annalena Baerbock, citada pelo Climate Home.

Também em tom de lamentação, o editor de meio ambiente do Guardian, Damien Carrington, observou que o resultado da COP27, principalmente a omissão em relação aos combustíveis fósseis no texto final, pode ter representado a morte política da meta de aquecimento de 1,5ºC definida pelo Acordo de Paris.

“É extraordinário que, em 30 anos de negociações climáticas da ONU, a eliminação da causa prioritária do aquecimento global nunca tenha sido mencionada nas decisões. Dado que a cúpula do clima da ONU no próximo ano será sediada por um petroestado, os Emirados Árabes Unidos, é difícil ver como uma repressão aos combustíveis fósseis acontecerá lá também”.

Em tempo: O Catar não está celebrando apenas a realização da Copa do Mundo. Nesta 2ª feira (21/11), o país confirmou um acordo de fornecimento de gás natural para a China com duração de 27 anos. De acordo com a Folha, a estatal Qatar Energy exportará todos os anos cerca de 4 milhões de toneladas de gás natural liquefeito para a chinesa Sinopec.

 

ClimaInfo, 22 de novembro de 2022.

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