As cenas registradas por Sônia Bridi e Paulo Zero e exibidas no último domingo no Fantástico (TV Globo) sobre a situação humanitária na Terra Yanomami causam angústia, tristeza e revolta. Como uma sequência de socos no estômago, as imagens desnudam qualquer fantasia negacionista e deixam evidente a vergonha que todo brasileiro deveria sentir ao testemunhar tamanho desastre em seu próprio país na terceira década do século XXI.
Uma das cenas exibidas mostram um helicóptero da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde se dirigindo à comunidade Homoxi, que simboliza como poucas o drama Yanomami. Nos últimos anos, o posto de atendimento indígena foi tomado e destruído pelos garimpeiros, que também passaram a ocupar e utilizar a pista de pouso para transportar o ouro retirado ilegalmente da reserva.
Em outro trecho, a reportagem flagrou a presença de garimpeiros durante uma ação da Força Aérea para distribuição de remédios e alimentos na comunidade do Xitei. Como a missão era humanitária, a prioridade era o atendimento às famílias indígenas, e não o enfrentamento com os criminosos.
“Fiquei profundamente chocado com as imagens”, lamentou o sertanista e ex-presidente da FUNAI, Sydney Possuelo, à Folha. “Os Povos Indígenas mandaram uma infinidade de documentos à FUNAI, ao IBAMA, à Presidência da República. Pediram socorro várias vezes e nada foi escutado. Aqueles corpos esquálidos, a mãe amamentando o filho tão esquelética quanto o menino é um drama terrível que nos envergonha perante o mundo”.
A retirada dos garimpeiros da Terra Yanomami é crucial para evitar que essa crise volte a se repetir no futuro, e o governo Lula está preparando uma megaoperação para viabilizar esse objetivo. De acordo com Leonardo Sakamoto no UOL, os ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Povos Indígenas, Fazenda e Defesa, entre outros, estão estudando caminhos possíveis e buscando reconstituir o trabalho bem-sucedido feito pelo governo federal nos anos 1990. Três décadas depois, o desafio é maior e mais complexo, já que o garimpo hoje conta com apoio e financiamento do crime organizado.
Uma medida mais imediata, tomada pelo presidente Lula nesta 2ª feira (30/1), restringiu o tráfego aéreo e fluvial dentro da Terra Yanomami. O propósito é desestruturar a cadeia logística que permite a retirada de ouro ilegal de dentro da reserva e o transporte de garimpeiros e insumos em seu interior. A notícia é do UOL.Em tempo: Além da doença e da fome, o garimpo também leva a violência para dentro das comunidades indígenas, com requintes de crueldade. No UOL, Fabíola Perez mostrou um recorte pouco comentado da presença garimpeira entre os indígenas: o aliciamento de indígenas, inclusive adolescentes e crianças, para a exploração sexual. “O que se observa é a utilização do ouro e da comida como meios de seduzir e envolver indígenas e ter acesso aos seus territórios”, explicou Luísa Molina, do Instituto Socioambiental.
ClimaInfo, 31 de janeiro de 2023.
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