Governador de RR defende garimpeiros e nega desnutrição de Yanomamis

Os comentários feitos pelo governador de Roraima, Antônio Denarium, sobre a crise humanitária vivida pelos Yanomami em seu estado, são um suco concentrado do contexto político, econômico e social que permitiu a ocorrência da pior crise humanitária em território brasileiro nas últimas décadas.

Em entrevista à Folha, Denarium minimizou a situação de subnutrição vivida por crianças e idosos indígenas e deu um show de preconceito ao defender que os Yanomamis se “aculturem” e deixem de “ficar no meio da mata, parecendo bicho”, citando a instalação de cassinos em Terras Indígenas nos EUA como uma saída para garantir renda.

Para juntar o insulto à injúria, Denarium ainda defendeu os garimpeiros que atuam ilegalmente na Terra Yanomami e relativizou a responsabilidade de seu aliado político, o ex-presidente Jair Bolsonaro, sobre a crise. “Foi dada publicidade a um problema que é recorrente há 20 anos. Estão criando um fato que não é de hoje”.

“É com o negacionismo de governantes como Denarium e Bolsonaro que se monta o cenário perfeito para a ocorrência de uma tragédia como a dos Yanomamis”, comentou o jornalista Chico Alves no UOL. Também no UOL, Jamil Chade lembrou que o exemplo citado por Denarium para defender a “aculturação” dos indígenas também sugere a prática genocida.

“O que o governador disse é referido, nos EUA, como genocídio indígena. Se o governador quer usar esse exemplo, terá que colocar outro debate sobre esse mesmo aspecto citado por ele. Nos EUA, acadêmicos e indígenas debatem se isso deveria ser considerado como genocídio. Aí ele carimba todas as acusações que são feitas ao bolsonarismo e seus cúmplices”.

CartaCapital, g1 e O Globo também repercutiram as asneiras absurdas do governador de Roraima.

Em tempo: O passado dos Yanomamis desde seus primeiros contatos, há meio século, explicita as sementes do drama vivido nos últimos meses pelos indígenas. O Globo relembrou uma coluna escrita por Carlos Drummond de Andrade na Folha, em 1979, na qual já alertava para o sofrimento dos Yanomamis e a necessidade da demarcação de suas terras – o que aconteceu apenas 13 anos depois.

“Não se pede muito. Nem se pede o indevido. Pretende-se tão-só conseguir que essa gente humilde continue a caçar, pescar e levar a vida, dentro de seus padrões tradicionais”, escreveu o poeta. “A consciência dos brasileiros há de reconhecer facilmente que os Yanomamis têm o direito de viver sua própria vida onde estavam, sem perturbar o desenvolvimento nacional e sem serem perturbados por ele”. O Instituto Socioambiental (ISA) publicou a íntegra do artigo de Drummond.

ClimaInfo, 31 de janeiro de 2023.

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