Desastres reforçam necessidade de revisão e implantação de plano para adaptação no Brasil

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Rovena Rosa/Agência Brasil

A repetição de tragédias decorrentes de eventos climáticos extremos no Brasil – como os que ocorreram em Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo, só para ficar nos mais recentes – mostra que o país ainda está subestimando a urgência da adaptação climática.

Exatamente por isso, a futura secretária nacional de mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, defende que o governo federal priorize a definição e a implementação de um novo plano nacional de adaptação climática.

“[O plano] tem que ser construído com quem está na ponta, os governos subnacionais e as comunidades mais vulneráveis. Mitigação e adaptação, essas duas pernas, são importantes e prioritárias na agenda climática”, disse Toni à jornalista Daniela Chiaretti, no Valor.

Em tese, desde 2016 o Brasil conta com um plano nacional de adaptação à mudança do clima. Apresentado no apagar das luzes do governo Dilma Rousseff, ele foi pouco implementado na gestão Temer e engavetado no governo Bolsonaro.

No entanto, Ana Toni ressalta que o plano precisa ser revisado, já que o contexto mudou – e a urgência da adaptação se tornou ainda mais latente. “Agora estamos em outro estágio. Temos que trabalhar tanto em prevenção quanto em resiliência, sabendo que urgências como as de São Sebastião, infelizmente, vão se repetir”.

A urgência também foi ressaltada por Natalie Unterstell e Sergio Margulis na revista piauí. “O Brasil urbano continua sendo construído para um clima que não existe mais e que não voltará a existir. (…) Desde janeiro de 2019, mais de um terço dos municípios brasileiros (35%) enfrentaram situações de emergência ou calamidade pública por tempestades, inundações, enxurradas ou alagamentos. Estamos, portanto, diante de um risco conhecido”.

Já a Agência Pública conversou com Norma Valencio (UNICAMP/UFSCar) sobre o desastre de São Sebastião, que ressaltou como o clima sozinho não pode responder por todas as perdas humanas. Para ela, o termo “desastre natural” naturaliza algo que tem como fator principal “estruturas institucionais e dinâmicas socioespaciais” que prejudicam grupos sociais vulneráveis.

“O que resta para os pobres é, na maioria das vezes, a ocupação irregular com um mercado de terras informal, paralelo, em áreas não apenas intrinsecamente inseguras, mas onde os infrassistemas públicos são inexistentes, insuficientes ou inadequados”, disse Valencio.

Em tempo 1: O Globo mostrou que parlamentares com base eleitoral no litoral norte de SP não mostraram muita preocupação em garantir recursos para prevenção de desastres naturais nos últimos anos, a despeito da região ter problemas históricos desse tipo. Dos R$ 11,7 milhões enviados por meio de emendas parlamentares a São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba desde 2018, nenhum um centavo sequer foi destinado a obras ou medidas que pudessem evitar a catástrofe da semana passada.

Em tempo 2: O INPE está se preparando para comprar um supercomputador para ampliar a capacidade de previsão de tempo e de clima no Brasil. De acordo com o reportado no UOL por Carlos Madeiro, o equipamento deve custar R$ 200 milhões financiados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), e deve ser instalado até 2026. O supercomputador substituirá o atual sistema Tupã, que ensaia uma “aposentadoria” desde 2017, e permitirá previsões mais acuradas sobre eventos meteorológicos e climáticos.

ClimaInfo, 27 de fevereiro de 2023.

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