PNUD defende reestruturação de dívida de países pobres para destravar financiamento climático

financiamento climático
Akhtar Soomro/Reuters

Os países em desenvolvimento, inclusive aqueles mais vulneráveis aos efeitos da mudança do clima, poderiam se beneficiar com centenas de bilhões de dólares em recursos se suas dívidas com as economias ricas fossem reestruturadas. A conclusão é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que apresentou um novo levantamento sobre o tema na semana passada.

O relatório identificou 52 economias em desenvolvimento de baixa e média renda em situação de superendividamento ou em alto risco de superendividamento, que são também o lar de mais de 40% das pessoas mais pobres do mundo. De acordo com a análise, um corte de 30% no estoque da dívida externa pública desses países nos níveis de 2021 poderia ajudar a economizar até US$ 148 bilhões em pagamentos do serviço da dívida ao longo de oito anos.

A reestruturação da dívida externa dos países pobres vem sendo defendida como uma alternativa para viabilizar recursos para financiar ações de mitigação e adaptação climática nessas economias. A proposta surge em um contexto de paralisia do financiamento internacional climático, provocado pelo não cumprimento das promessas financeiras dos países ricos.

“Os países mais sobrecarregados por dívidas e falta de acesso a financiamento também estão sendo atingidos por várias outras crises, como o impacto econômico da COVID-19, a pobreza e a aceleração da emergência climática. Chegou a hora de abordar o abismo cada vez maior entre países ricos e pobres, mudar o cenário multilateral e criar uma arquitetura de dívida adequada ao nosso mundo complexo, interconectado e pós-COVID”, destacou Achim Steiner, chefe do PNUD.

À Reuters, Steiner foi ainda mais incisivo e classificou como uma “piada” o fracasso dos países desenvolvidos em oferecer financiamento climático às nações mais pobres. “Acho que muitos países deveriam se perguntar se este pode ser um dos erros mais trágicos da história, que 10 anos depois de fazerem tal promessa, o compromisso dos US$ 100 bilhões [anuais] ainda não foi cumprido”. A Folha também destacou a fala.

Em tempo: Frustração também resume o sentimento do ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, com a situação atual do financiamento climático. Em entrevista ao Guardian, o líder sul-coreano celebrou a criação do fundo para perdas e danos, sinalizado na COP27, e cobrou “responsabilidade moral” das nações desenvolvidas em tirá-lo do papel para apoiar os países mais pobres que lidam com os impactos dos eventos extremos.

ClimaInfo, 27 de fevereiro de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.