Conferência da ONU sobre Água: muito barulho, pouca ação

Conferência ONU Água
LEONARDO MUNOZ/AFP

A primeira Conferência da ONU sobre Água, em quase meio século, terminou, na semana passada, em Nova York, com um balanço típico desse tipo de evento. Muitas declarações de intenção e promessas de ação para garantir o acesso à água potável de qualidade e ao saneamento básico; mas pouca definição prática. Faltam cronogramas, objetivos definidos e, principalmente, obrigatoriedade de implementação de medidas para a universalização dos serviços e para o avanço concreto na agenda de segurança hídrica.

O Guardian calculou que quase 700 compromissos de governos locais e nacionais, de organizações não governamentais e de algumas empresas foram anunciados durante a Conferência.

O encontro marcou a criação de um novo painel científico da ONU sobre água e do posto de enviado especial para assuntos de segurança hídrica. Entretanto, especialistas e representantes da sociedade civil criticaram a falta de foco da ONU e dos governos na Conferência, que aconteceu sem uma agenda clara de objetivos a serem perseguidos.

“Tentar resolver um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta com compromissos voluntários e soluções baseadas em evidências incompletas é como levar uma faca para um tiroteio – simplesmente não é bom o suficiente e representa uma traição aos pobres do mundo que carregam o peso da crise hídrica”, destacou Nick Hepworth, diretor-executivo da Water Witness.

O enviado holandês para água, Henk Ovink, reconheceu à Reuters a frustração com o resultado final da Conferência, mas ofereceu uma perspectiva mais otimista para o futuro. “Isso é suficiente? Não. Nós fragmentamos a governança da água em todo o mundo, fragmentamos as finanças e não temos ciência e dados disponíveis. Esta Conferência é o início de um efeito cascata em todo o mundo”, disse.

Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, voltou a pisar na tecla da mobilização global como caminho para enfrentar a crise hídrica. “Todas as esperanças da humanidade para o futuro dependem, de alguma forma, de traçar um novo rumo para gerir e conservar a água de forma sustentável”, afirmou. “A água  precisa estar no centro da agenda política global”.

Associated Press, Inside Climate News, LA Times, RFI e Um Só Planeta também abordaram os (pífios) resultados da Conferência.

ClimaInfo, 27 de março de 2023.

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