A Alemanha começou a vender na semana passada um bilhete nacional de transporte público a preço mais acessível, com o objetivo de baratear a locomoção das pessoas e reduzir o uso de transporte particular no país.
O Deutschlandticket custa 49 euros (cerca de R$ 272) por mês e pode ser comprado por residentes e turistas, por meio de assinatura digital feita em aplicativo de smartphone. Ele cobrirá as redes locais e regionais de transporte público, mas não contemplará viagens de longa distância em ônibus nem os trens dos serviços Intercity Express de alta velocidade.
A medida é fruto de um experimento feito pelas autoridades alemãs no verão do ano passado, quando os passageiros puderam utilizar a rede regional de trens, bondes e ônibus por um mês pagando apenas nove euros. Cerca de 52 milhões de passagens foram vendidas, sendo que ⅕ delas foi comprada por pessoas que não utilizavam normalmente o transporte público.
O sucesso da experiência animou o governo do chanceler Olaf Scholz, que enxergou na possibilidade de um “bilhete único nacional” acessível uma maneira de matar dois coelhos com uma cajadada só. Por um lado, reduzir a pressão da alta dos combustíveis sobre os consumidores, com a oferta de transporte público mais barato. Por outro, diminuir a circulação de carros de passeio individual, com redução consequente das emissões de gases de efeito estufa.
Para tanto, como o Guardian assinalou, o Parlamento alemão aprovou um subsídio governamental que cobrirá metade do custo anual estimado para essa modalidade de bilhete, de cerca de 3 bilhões de euros pelos próximos três anos. A outra metade será financiada pelos 16 estados federais da Alemanha.
Mas nem todos receberam bem a nova medida. A Deutsche Welle destacou o ceticismo de alguns especialistas em transporte público, que argumentam que o custo de financiamento do esquema supera em muito seus potenciais benefícios ambientais e que a rede pública precisa de novos investimentos para absorver a demanda adicional. Além disso, organizações ambientalistas criticam o valor da passagem, bem mais cara que os nove euros cobrados no ano passado.
A Euronews também abordou a notícia.
Em tempo: Ainda sobre a Alemanha, a Bloomberg destacou como a movimentação do governo do país para flexibilizar a proibição de venda de novos carros a combustão na União Europeia a partir de 2035 quase descarrilou os esforços do bloco para promover os carros elétricos. A principal preocupação de Berlim era livrar os modelos que funcionam com e-combustíveis das futuras restrições, o que precipitou inclusive uma ameaça de veto dos alemães à medida na UE. No entanto, a reportagem mostrou que os combustíveis sintéticos defendidos pelas autoridades alemãs estão longe de qualquer contribuição significativa na corrida pela neutralidade do carbono, com estimativas de que apenas 2% da frota da UE funcionará com esse tipo de combustível em 2035.
ClimaInfo, 10 de abril de 2023.
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