Fundos ESG investem bilhões de dólares em combustíveis fósseis

Fundos ESG fósseis
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Sustentáveis, ma non troppo. Essa é a conclusão de um novo levantamento que analisou fundos de investimentos teoricamente alinhados com critérios de sustentabilidade ambiental, social e de governança, a famosa sigla ESG. Mesmo com as promessas de investimentos em empresas e setores “verdes”, esses fundos investiram mais de US$ 1,5 bilhão em títulos de grandes empresas de petróleo, carvão e gás fóssil.

A maior parte desse valor investido em empresas fósseis (quase US$ 1 bi) está concentrada em fundos ESG de três das maiores gestoras de ativos do mundo – BlackRock, State Street e Legal & General. Os dados se referem ao período entre fevereiro e abril de 2023, o que mostra que o mercado financeiro ainda está tropeçando quando o assunto é investimento responsável.

Para o think tank Common Wealth, responsável pelo levantamento, essa informação evidencia uma lacuna conceitual que o ESG ainda não conseguiu superar. Ao invés de buscar maneiras para viabilizar as transformações necessárias para enfrentar a crise climática, como a descarbonização da economia, os gestores de investimento ainda enxergam ESG como uma ferramenta para gerenciar riscos financeiros e reduzir eventuais impactos em seus negócios.

“Na sua essência, o investimento ESG não é uma estrutura cujo objetivo é impulsionar mudanças na economia real. É uma estratégia baseada na redução dos impactos financeiros, não materiais – ou seja, os impactos reais das atividades econômicas no clima e no meio ambiente”, explicou Adrienne Buller, diretora do Common Wealth.

A entidade assinala que os resultados do estudo reforçam a necessidade de uma regulamentação mais rígida para investimentos ESG, de forma a evitar que eles beneficiem empresas poluidoras. Além disso, o mercado financeiro precisa resolver efetivamente essa lacuna na lógica ESG e focar em transformações reais, e não somente em retornos de curto prazo para os investidores.

“Em vez de ser uma escolha consciente do clima para os investidores, os fundos ESG estão sustentando gigantes dos combustíveis fósseis. Os pedidos de regulamentação são um passo para reconhecer o problema, mas eles não abordam a questão fundamental: os retornos financeiros para os investidores estão tendo primazia sobre a proteção do clima”, disse Sophie Flinders, da Common Wealth.O Guardian repercutiu os principais dados deste estudo.

ClimaInfo, 3 de maio de 2023.

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