
O mercado financeiro ESG vem experimentando um dos piores momentos de sua curta vida nos últimos meses. Depois de ganhar força durante a pandemia, os títulos verdes perderam espaço desde a vitória de Donald Trump nas eleições de novembro passado nos Estados Unidos. Temerosos em não melindrar as coisas com o novo governo, os investidores se distanciaram desse mercado.
Dados compilados pela Bloomberg mostram o tamanho do tropeço. As vendas de títulos verdes caíram cerca de 33% em 2025 na comparação com os primeiros meses de 2024, movimentando US$ 8 bilhões (excluindo as movimentações na China). A queda ocorreu apesar de um aumento de 18% na emissão geral de títulos de mercados emergentes, que totalizaram US$ 225 bilhões.
“As conversas sobre que tipos de investimentos chegarão ao mercado, quem está interessado, estavam desacelerando no ano passado. Agora, com o novo governo [nos EUA], isso praticamente evaporou”, afirmou Jeff Grills, da Aegon Asset Management.
A cautela dos investidores está diretamente relacionada à ofensiva antiambiental imposta por Trump em seus primeiros meses de governo. Além de retirar os EUA do Acordo de Paris, a Casa Branca reforçou as ações judiciais do Partido Republicano contra gestoras de ativos e empresas que se alinhassem aos critérios ESG, sob a justificativa de que isso prejudicaria os negócios ao discriminar as empresas de combustíveis fósseis.
Os reflexos disso, no entanto, vão além do mercado financeiro norte-americano. Os governos dos países em desenvolvimento, que vinham desenvolvendo novos modelos de títulos verdes para arrecadar recursos para ação climática, enfrentam mais dificuldades para encontrar compradores para seus papéis.
Ao mesmo tempo, investidores em outros mercados também reagiram aos ataques contra o ESG, resultando no esvaziamento de iniciativas internacionais que visam alinhar a indústria financeira aos objetivos do Acordo de Paris. Depois de bancos norte-americanos deixarem a Net-Zero Banking Alliance, instituições europeias e asiáticas também seguiram o mesmo caminho nos últimos meses.
A Folha traduziu a reportagem.
Em tempo: Enquanto os EUA descambam para o negacionismo climático, a China conseguiu arrecadar cerca de US$ 826 milhões em sua primeira venda de títulos soberanos verdes. O mercado chinês vem remando contra a corrente internacional anti-ESG: embora a emissão global de títulos verdes tenha desacelerado, as entidades chinesas são as maiores emissoras de títulos do topo até agora neste ano. Os títulos serão listados na Bolsa de Hong Kong, mas as autoridades de Pequim devem requisitar à Bolsa de Valores de Londres uma permissão para que eles sejam negociados lá. A notícia é da Bloomberg e da Reuters.