Futuro da geração de eletricidade no Brasil é hidro-solar-eólico, conclui relatório da Coalizão Energia Limpa

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Coalizão Energia Limpa / Fábrica de Ideias

Ainda que “quase sem querer”, o Brasil foi visionário em usar fontes renováveis – mais precisamente, a hidreletricidade – para garantir energia elétrica para o país. Contudo, as mudanças climáticas vêm afetando os recursos hídricos brasileiros e, de quebra, colocando em risco o abastecimento elétrico nacional. Para resolver essa ameaça, é preciso ampliar o investimento em energias limpas, ampliando a matriz elétrica sem aplicar recursos na geração de energia por combustíveis fósseis.

Essas são as principais conclusões do estudo “Vulnerabilidades do setor elétrico brasileiro frente à crise climática global e propostas de adaptação”. O documento foi elaborado pela Coalizão Energia Limpa.

A pesquisa aponta que o Brasil ainda não tem uma política concreta para enfrentar os impactos da crise climática sobre seu sistema elétrico. E que o planejamento elétrico nacional considera um volume histórico de chuvas que pode não ocorrer, obrigando a tomada de medidas emergenciais que encarecem e poluem a matriz energética – como na crise hídrica de 2021.

“Os registros mostram que os eventos climáticos extremos estão aumentando, tanto na frequência quanto na magnitude”, explica Lincoln Muniz Alves, do INPE, um dos autores do estudo e que também atuou como autor-líder do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC. Apesar disso, os especialistas revelam que há resistência do governo e demais planejadores do sistema elétrico em mudar os modelos no setor, destaca a Folha.

Um exemplo disso é a postura do planejamento energético em relação às térmicas. “A contratação recente de termelétricas durante a crise hídrica soou um alerta para o custo operacional elevado ocasionado pela falta de uma política de enfrentamento às mudanças climáticas. Torna-se importante repensar métodos e estratégias para minimizar a vulnerabilidade do setor elétrico, observando a modicidade tarifária [tarifas a preços acessíveis]”, explica José Wanderley Marangon Lima, consultor da MC&E e secretário de P&D do Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL).

Por isso, relata a epbr, o estudo propõe que o planejamento energético deve priorizar as fontes renováveis, sem precisar recorrer a termelétricas a gás, óleo e/ou carvão. “Uma alternativa adicional para enfrentar a ameaça climática seria dispor de tecnologias de armazenamento como baterias, hidrogênio verde, usinas hidrelétricas reversíveis etc. Dessa forma, a necessidade de termelétricas fósseis ocorreria apenas em situações emergenciais e transitórias.”

Ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata hoje preside a Frente Nacional dos Consumidores de Energia e apoia as conclusões do relatório. Ele pontua que não é uma tarefa fácil coordenar o sistema elétrico com tantas novas variáveis, mas o desafio está posto e precisa ser enfrentado.

“O operador do sistema pode gerenciar e coordenar a operação de hidrelétricas e térmicas, mas não consegue fazer o mesmo, com o modelo atual, para solares e eólicas. A complexidade do setor aumentou, e temos de debater novas saídas”, reforça ele.

((o))eco, Projeto Colabora e Um só planeta também repercutiram o relatório da Coalizão Energia Limpa sobre mudanças climáticas e o setor elétrico brasileiro.

ClimaInfo, 29 de maio de 2023.

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