Equipe de presidente da COP28 é acusada de fazer greenwashing na Wikipedia

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Karim Sahib/AFP

Segue a novela em torno da presidência da próxima COP28, nos Emirados Árabes Unidos. Uma reportagem do Guardian mostrou que a equipe do futuro presidente da Conferência (e CEO de uma petroleira do país), Sultan Al-Jaber, estaria editando diversas páginas na Wikipedia para suavizar críticas ao executivo, em um esforço de greenwashing.

De acordo com a matéria, auxiliares de Al-Jaber mexeram nos verbetes relativos a ele próprio e à COP28, incluindo citações elogiosas e excluindo menções a polêmicas em torno de sua indicação ao comando das negociações climáticas da ONU.

Uma das edições sugeridas foi a remoção de referências a um acordo de US$ 4 bilhões que Al-Jaber assinou em 2019 com os gestores de investimentos BlackRock e KKR para o desenvolvimento de infraestrutura de oleodutos. Outra mudança foi a exclusão de uma citação de reportagem do Financial Times que destacava o conflito de interesses de Al-Jaber na COP28 – de encabeçar as negociações climáticas enquanto executivo do principal setor econômico envolvido na crise do clima.

O chefe de marketing da organização da COP28 nos Emirados Árabes, Ramzi Haddad, é uma das conexões entre as edições de verbetes na Wikipedia e a equipe de Al-Jaber. Há alguns meses, ele foi forçado a admitir ser o usuário responsável por alterações anteriores na plataforma, já que o “apelido” dele, Junktuner, é o mesmo utilizado em sua conta no Twitter.

A notícia intensifica o mal estar entre ativistas climáticos e o comando da próxima COP. Na semana retrasada, um grupo de parlamentares dos Estados Unidos e da União Europeia, com apoio de organizações da sociedade civil, encaminharam um pedido formal à ONU para barrar a indicação de Al-Jaber à presidência da COP28, exatamente por conta de suas conexões com o setor de óleo e gás.

O Financial Times destacou o temor desses ativistas com o que pode acontecer na Conferência de Dubai, no final do ano. Enquanto a ciência reitera a necessidade de abandonarmos o quanto antes a queima de petróleo, carvão e gás, a movimentação de Al-Jaber e de outros governos está no sentido contrário, de dar sobrevida à indústria dos combustíveis fósseis.

“Uma COP28 que carece de ambição e falha em alcançar o progresso alimentaria preocupações mais amplas sobre a eficácia das cúpulas climáticas, após críticas sustentadas à COP27, onde mais de 600 lobistas de combustíveis fósseis se inscreveram para participar”, assinalou a reportagem.

Já James Lynch, codiretor da organização de Direitos Humanos Fair Square, ressaltou no Climate Home outro aspecto preocupante da COP28: o fato dela ser realizada (mais uma vez) em um país ditatorial, sem liberdade política e com uma política externa voltada ao relacionamento com outras ditaduras. “Se houver alguém dentro do movimento climático com esperanças na abordagem dos Emirados Árabes Unidos às mudanças do clima, este é o momento de começar a prestar atenção ao seu histórico como um ator profundamente regressivo e perigoso nos assuntos globais”, observou.

ClimaInfo, 31 de maio de 2023.

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