“Bruno e Dom continuam sendo assassinados”: um ano depois, indígenas do Vale do Javari seguem ameaçados

Bruno & Dom assassinatos 1 ano
Bruno Santos / Folha Press

Há exato um ano, no dia 05 de junho de 2022, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram emboscados por um grupo de pescadores no Vale do Javari, no Amazonas, sendo barbaramente assassinados. De lá para cá, mesmo com a repercussão internacional do caso, pouca coisa mudou: os indígenas do Vale do Javari – e, a bem da verdade, os Povos Indígenas de todo o Brasil – seguem tão vulneráveis quanto antes, e o crime organizado continua dominando a região.

Em entrevista à GloboNews, o presidente da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), Beto Marubo, ressaltou que os problemas seguem os mesmos na região. “A maior parte das ações que foram executadas no Javari foram paliativas que, na prática, não vão resolver a questão do Vale do Javari [que envolve] o enfrentamento da criminalidade, das quadrilhas organizadas, da pesca e caça ilegais”, disse.

Além da resposta tímida do poder público à crise de insegurança e à criminalidade no Vale do Javari, a Câmara dos Deputados ainda colocou mais lenha na fogueira das maldades ao aprovar, na semana passada, o projeto de lei sobre o marco temporal para demarcação de Terras Indígenas. Na prática, o PL 490 enfraquece significativamente a proteção legal desses territórios.

“A proposta do Congresso é uma afronta à Constituição, à memória de Bruno e de Dom e também ao Supremo [Tribunal Federal]”, escreveram Beto Marubo, Fabrício Amorim e Helena Palmquist, no Sumaúma. “É como se a classe política brasileira que domina o Congresso tentasse uma volta, na marra, às piores políticas do governo que as urnas derrotaram em 2022. As políticas que provocaram a morte de Bruno e de Dom. O sacrifício deles não pode ter sido em vão. Aprovar essas legislações e o marco temporal é assassiná-los de novo”.

Em tempo: As viúvas de Bruno Pereira, Beatriz de Almeida Matos, e de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, conversaram com O Globo sobre o ano desde a morte de seus parceiros e sobre a luta para levar o trabalho deles adiante.

Para elas, além da punição aos criminosos responsáveis pelos homicídios, é preciso conter a rotina de ameaças e medo nas aldeias. Beatriz atua, hoje, como chefe do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato da FUNAI, posição que o próprio Bruno ocupou no passado.

Já Alessandra prepara a criação do Instituto Dom Phillips, com foco em continuar o legado de conscientização internacional sobre a floresta amazônica e sobre a proteção dos Povos Indígenas que nela vivem.

ClimaInfo, 5 de junho de 2023.

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