Exploração de petróleo assusta pescadores da foz do Amazonas

pescadores Foz do Amazonas
Willy Miranda / Agência Pública

Políticos que defendem a perfuração de um poço de petróleo pela Petrobras na Bacia da Foz do Amazonas bradam que a atividade vai levar riqueza à região, em particular ao Amapá. Em audiências públicas feitas às pressas, promovem desinformação e repelem questionamentos, transformando o que seria um ambiente de diálogo em um comício pró-combustíveis fósseis. Se de fato escutassem as populações locais, talvez pensassem duas vezes em continuar encampando tal ideia.

A “questão do petróleo” é algo que vem assombrando os pescadores do litoral amapaense, mostra a Agência Pública. Ao se andar por Oiapoque, cidade do Amapá que fica mais próxima do local onde a Petrobras quer perfurar um poço, ouvem-se os burburinhos sobre a possível exploração de petróleo. Mas, assim como na maioria das comunidades onde acontecem grandes empreendimentos na Amazônia, o receio dos danos é a única certeza que a população conhece.

Oiapoque possui centenas de pescadores – são cerca de 300 registrados na colônia de pesca do município – que trabalham apenas na região do mangue. Como todo o litoral amapaense é composto por praias de lama, e não de areia, eles temem os efeitos de um possível acidente.

“Seu” Júlio Teixeira preside a colônia de pescadores. Com 62 anos, chegou ao Amapá com 12, em um barco de pesca vindo de Salvaterra, na Ilha do Marajó, no Pará. Conta que há mais de 40 anos a Petrobras já estava na região realizando pesquisas. E a possibilidade da empresa explorar petróleo o assusta.

“Se vazar alguma coisa, não é como no Nordeste, que pode juntar a areia e limpar. Aqui nunca, nunca, só Deus pra limpar. Porque é sedimento, é barro, ele vai se misturar, não tem como limpar”, explica ele.Enquanto isso, os defensores da exploração de petróleo na foz do Amazonas continuam se articulando – sobretudo em Brasília, a milhares de quilômetros de quem vai sentir os efeitos dessa atividade na pele. Nesta 4ª feira (14/6), a Comissão de Minas e Energia da Câmara realiza audiência pública sobre a exploração de petróleo e gás fóssil na Margem Equatorial, que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte. Ao anunciar a audiência, a Agência Câmara diz que “o Ministério de Minas e Energia afirma que a exploração petrolífera nessa área é essencial para manter a produção brasileira, que tem tendência de queda a partir de 2029”. Nenhum espaço é dado ao contraditório na convocação para o encontro.

ClimaInfo, 13 de junho de 2023.

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