Começo de junho quente aumenta chances de recordes de calor em 2023

junho quente hemisfério norte
Paul Hanna/Bloomberg

O mês de junho começou com temperaturas acima da média em todo o planeta, com o mundo superando o limite de 1,5oC de aquecimento global em relação às temperaturas do período pré-industrial, informou o Serviço de Mudanças Climáticas da Copernicus, da União Europeia. Embora não seja inédito um aumento de temperatura global acima do nível de 1,5oC – a primeira vez foi em dezembro de 2015 –, a marca é simbólica por ser a meta de aquecimento médio máximo estabelecida no Acordo de Paris.

Samantha Burgess, vice-diretora do Copernicus e responsável pelos dados, procurou relativizar a superação do teto de Paris, segundo a AP. “Só porque passamos temporariamente de 1,5 grau não significa que violamos o limite do Acordo de Paris. Para que isso aconteça, o globo precisa exceder esse limite por um período de tempo muito mais longo, como algumas décadas, em vez de algumas semanas.”

“O mundo acaba de experimentar o início de junho mais quente já registrado, após um mês de maio que foi menos de 0,1oC mais frio do que o maio mais quente já registrado. Monitorar nosso clima é mais importante do que nunca para determinar com que frequência e por quanto tempo as temperaturas globais estão excedendo 1,5oC. Cada fração de grau é importante para evitar consequências ainda mais graves da crise climática”, disse Burgess na fala destacada pela Bloomberg.

Além do novo recorde global de calor para junho, a grande ameaça para o  objetivo de Paris são os efeitos do El Niño iniciado este mês e que podem durar anos. As condições do El Niño iniciado agora irão “se fortalecer gradualmente” no início do próximo ano, disse a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Por isso, Michael Mann, cientista climático da Universidade da Pensilvânia, disse ao Guardian que o aquecimento causado pela atividade econômica humana será exacerbado pelo fenômeno, que costuma acrescer entre 0,1oC e 0,2oC à temperatura global.

“A anomalia da temperatura da superfície global está em níveis recordes ou próximos deles, e 2023 quase certamente será o ano mais quente já registrado. É provável que isso também seja verdade para quase todos os anos do El Niño no futuro, desde que continuemos a aquecer o planeta com a queima de combustíveis fósseis e a poluição por carbono.”

A Bloomberg lembra que, enquanto o mundo tenta se recuperar da COVID-19 e a guerra da Rússia na Ucrânia continua, a chegada do primeiro El Niño em quase quatro anos prenuncia novos danos a uma economia já fragilizada. O fenômeno pode gerar caos, especialmente em países emergentes. As redes elétricas podem se sobrecarregar e os apagões podem se tornar mais frequentes. O calor extremo pode criar emergências de saúde pública, enquanto a seca aumenta riscos de incêndio. Colheitas podem ser perdidas, estradas inundadas e casas destruídas.

E assim como a atmosfera, a temperatura dos oceanos também está em trajetória ascendente, com recordes em abril e maio, antes do El Niño, informam Bloomberg, New York Times e Washington Post. As temperaturas oceânicas de março a maio também foram as mais altas do registro de 174 anos, de acordo com os Centros Nacionais de Informações Ambientais dos EUA. Oceanos mais quentes costumam resultar em mais eventos extremos, como ciclones, além do aumento do nível do mar. E a combinação das temperaturas da terra e do mar fez com que o mundo registrasse seu terceiro maio mais quente de todos os tempos.Na Europa, os extremos climáticos já não davam trégua antes mesmo do verão, que começa nesta semana. Na Alemanha, o Rio Reno – uma artéria vital para o país e outras partes do interior da Europa – já está com os níveis de água baixos o suficiente para restringir a navegação e, portanto, o comércio, segundo a Bloomberg. E a falta de chuvas e o aumento das temperaturas levaram a condições perigosamente secas no norte europeu, com alertas de incêndios florestais desde a Escócia até aos países nórdicos e bálticos, detalha a AP.

ClimaInfo, 19 de junho de 2023.

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