À sombra da guerra na Ucrânia, OTAN quer exércitos “verdes” contra crise climática

OTAN guerra verde
Christian Charisius/dpa via AP

A situação securitária da Europa é a mais grave desde o final da Guerra Fria. A guerra entre Rússia e Ucrânia no leste do continente é apenas a ameaça mais recente – e, pelo perfil dos envolvidos, mais perigosa também. Nas últimas décadas, o terrorismo fundamentalista islâmico foi responsável por diversos ataques em países como Alemanha, Bélgica, Espanha, França e Reino Unido.

Por isso, é curioso ouvir o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, citar a crise climática como uma das ameaças mais graves à segurança e à paz no Ocidente. Não que ela não seja, pelo contrário. A ênfase dada à questão é que surpreende.

Em entrevista à Associated Press, Stoltenberg abordou o “dilema” enfrentado pela OTAN entre ter forças armadas “verdes” e adaptadas ao novo contexto e aos novos desafios climáticos ou garantir potência militar no curto prazo. Para ele, a aliança precisa conciliar a necessidade de forças armadas fortes e eficazes com a necessidade de ter forças armadas preparadas para lidar com os impactos da crise climática.

“A mudança climática é um multiplicador de crises. Ela aumenta a competição por recursos escassos como água e terra e leva milhões de pessoas a deixar seus países. Portanto, tudo isso afeta nossa segurança”, disse Stoltenberg. 

Ao mesmo tempo, o conflito entre russos e ucranianos no leste europeu também está tendo efeitos sobre os esforços do resto do mundo para enfrentar a crise climática. Em entrevista ao NY Times, o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, repetiu o argumento da mudança do clima como “multiplicador de crises” e reiterou que a guerra na Ucrânia já está tendo impacto sobre a ação climática. “Esse é um grupo muito grande de ameaças reais que já estamos vendo acontecer de certas maneiras em todo o mundo”, disse ele.

Essa discussão sobre segurança, meio ambiente e clima na Europa acontece sob um pano de fundo de devastação na Ucrânia, potencializada no começo do mês com a destruição da barragem de Kakhovka, que inundou uma vasta área no leste do país. O avanço da água destruiu casas, lavouras e infraestruturas em tal proporção que, em alguns casos, as perdas são irreparáveis, inclusive sob a ótica ambiental.

Associated Press, CNN, Deutsche Welle e Reuters abordaram os impactos ambientais da ruptura da barragem de Kakhovka na Ucrânia.

ClimaInfo, 22 de junho de 2023.

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