Cúpula em Paris tenta destravar financiamento climático a países pobres

Cúpula de Paris 2023
AP Photo/Michel Euler

Palco do histórico Acordo de Paris, assinado em 2015 na COP21, a capital francesa volta aos holofotes climáticos globais nesta semana com a realização de uma cúpula internacional para discutir caminhos para aumentar o financiamento para mitigação, adaptação e perdas e danos decorrentes da crise climática.

Organizada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, a Cúpula reunirá lideranças políticas e econômicas, além de ativistas climáticos e especialistas. Lula estará presente. O encontro acontece no âmbito da chamada Iniciativa Bridgetown, lançada pela primeira-ministra de Barbados, Mia Motley, com o objetivo de discutir a reforma do sistema multilateral de financiamento para o desenvolvimento com foco na ação climática nos países mais pobres e vulneráveis.

A ideia central da iniciativa, e que deve orientar as discussões em Paris nos próximos dias, é como revitalizar instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que elas apoiem efetivamente as nações em desenvolvimento com recursos para ação climática. Este caminho é defendido por diversos países desenvolvidos como uma das maneiras para ampliar o pool de recursos financeiros para o clima.

Por outro lado, os países mais pobres defendem que a reforma destas instituições implique também numa mudança na abordagem de financiamento: saem os empréstimos com juros que geram dívida externa a essas nações, entram doações e troca de dívida por recursos (o chamado debt-swap).

Em artigo publicado na Folha e em outros veículos mundo afora, Macron, Lula e outras lideranças que participarão da cúpula de Paris defenderam a costura pelos países de uma transição ecológica global que não deixe ninguém para trás, especialmente as comunidades mais pobres e vulneráveis.

“Queremos um sistema que responda melhor às necessidades de desenvolvimento e às vulnerabilidades, agora agravadas pelos riscos climáticos, que podem enfraquecer ainda mais a capacidade dos países para eliminar a pobreza e alcançar um crescimento econômico inclusivo”, destacaram os signatários do texto. “Aproveitaremos a reunião de Paris como um momento político decisivo para recuperar os ganhos de desenvolvimento perdidos nos últimos anos e para acelerar o progresso em direção aos ODS [Objetivos do Desenvolvimento Sustentável], incluindo transições justas”.

A cúpula acontece sob o pano de fundo da desconfiança entre países desenvolvidos e em desenvolvimento nas negociações climáticas da ONU. A frustração dos governos mais pobres com as promessas financeiras não cumpridas pelos contrapartes mais ricos motivou uma “rebelião” que quase inviabilizou a rodada recente de discussões na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), na Alemanha.

Até como uma maneira de aliviar a situação, o governo francês prepara o anúncio de que, finalmente, os US$ 100 bilhões anuais para financiamento climático prometido pelos países ricos em 2009 para acontecer a partir de 2020 serão atingidos neste ano. Segundo Ana Carolina Amaral na Folha, a única incerteza está no OK dos Estados Unidos, principal financiador internacional para ação climática.

Veículos como AFP, Associated Press, Climate Home, Deutsche Welle, Financial Times e Reuters repercutiram o encontro de Paris e as expectativas em torno de seus resultados.

Em tempo: Preparamos um briefing com cinco temas a serem observados na Cúpula de Paris desta semana, veja aqui. Preparamos também um conjunto de perguntas e respostas sobre as razões pelas quais o debate sobre finanças é crucial para o avanço da agenda internacional no combate à emergência climática, veja aqui.

ClimaInfo, 22 de junho de 2023.

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