Lago Crawford, o novo marco geológico do Antropoceno

Lago Crawford Antropoceno
Bonnie Jo Mount / The Washington Post

Olhando em imagens de satélite e mesmo em fotografias, ele parece um lago comum. Não há nada em sua aparência que possa sugerir qualquer relevância de abrangência global. Mas é exatamente esse lago, de nome Crawford, perdido na província canadense de Ontário, que cientistas apontam como o marco fundador de uma nova era geológica da Terra – o Antropoceno.

O Grupo de Trabalho do Antropoceno (AWG, da sigla em inglês), da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), sugeriu o lago Crawford como o “golden spike” da transição do Holoceno para o Antropoceno, que teria iniciado em 1952. A partir dessa data, eles identificaram sinais claros sobre os impactos geológicos das atividades humanas no leito do lago. Entre os sinais identificados nesse local, estão resíduos de testes nucleares, como isótopos de plutônio.

O que diferencia o lago Crawford de outros corpos d’água, para efeitos de registro do Antropoceno, é sua característica peculiar. Com uma profundidade de 24 metros, mas apenas 2,4 hectares de área, ele é do tipo meromítico, no qual a água da superfície não se mistura à água do fundo. É exatamente por causa dessa separação que cientistas indicam que o lago Crawford, especialmente seu leito profundo, é o ponto ideal para analisar como a humanidade está transformando geologicamente a Terra.

Como a Folha assinalou, a hipótese do Antropoceno é defendida por alguns cientistas para distinguir uma nova era geológica marcada pelos impactos ambientais das atividades humanas no planeta. Um dos argumentos é de que as mudanças climáticas causadas pela humanidade estão encerrando o período de 11,7 mil anos em que o clima da Terra foi relativamente estável, favorecendo o crescimento da espécie humana.

De toda forma, a decisão em torno do lago Crawford como marco do Antropoceno depende da aprovação de outras instituições científicas do campo da geologia. Se a proposta avançar, ela será formalizada no ano que vem, durante congresso da IUGS na Coreia do Sul.

Correio Braziliense, Folha e Um Só Planeta, entre outros, repercutiram a notícia. No exterior, ela teve amplo destaque na imprensa, com manchetes na AFP, Associated Press, BBC, CNN, Financial Times, Guardian, Nature, NY Times, Reuters e Washington Post.