As grandes petroleiras mundiais estão retrocedendo em seus planos de net zero e vêm recebendo uma saraivada de críticas de ambientalistas e acionistas. As estatais do setor, chamadas national oil companies (NOCs), não costumam ser tão claras nesse quesito. Mas, segundo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, as NOCs planejam ir à COP28, em novembro, e deixar claras suas metas de descarbonização – embora a própria Petrobras ainda não tenha dito o que pretende e sobretudo o que fará para isso.
“Para nós o desafio é duplo, eu chamei de metamorfose energética, para nós é mais do que uma transição energética, é deixar de produzir o que rende pra você e virar uma empresa de energia com outra fonte também, até um momento lá na frente que você vai passar a produzir outra coisa”, tergiversou Prates ao Estadão.
De resto, Prates disse mais do mesmo: que a Petrobras planeja construir parques eólicos offshore, tem planos de entrar na produção de hidrogênio verde e está desenvolvendo biocombustíveis em larga escala, reforça o InfoMoney.
Enquanto a tal “metamorfose energética” não chega, a Petrobras tenta segurar a pressão do Ministério de Minas e Energia (MME) por mais gás fóssil. Segundo CNN e UOL, a petroleira vem conversando com o governo da Bolívia e pode voltar a investir no país vizinho para extrair o combustível fóssil. Em 2007, a Bolívia mudou as regras dos contratos com as petroleiras que atuavam no país, o que travou investimentos em exploração no país.
Para não perder o hábito, o MME voltou a criticar a Petrobras na 6ª feira (14/7), dizendo que as médias de reinjeção de gás fóssil da Petrobras em poços de petróleo são superiores aos volumes de outros países, informa o Valor. Já a petroleira respondeu, segundo o Poder 360, que a culpa é da falta de gasodutos, que limita o mercado consumidor. Com isso, 10% do gás fóssil produzido no Brasil precisa ser reinjetado nos poços por não poder ser escoado.
Em tempo 1: Em entrevista à Veja, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a insistir na exploração de petróleo na foz do Amazonas, e com o velho discurso desenvolvimentista do século passado. “Se o governo abrir mão de pesquisar essa região para saber a sua potencialidade, ele estará dizendo não à última fronteira de exploração de petróleo no Brasil, com a possibilidade de estar perdendo também um grande potencial de gás. Se a decisão for não fazer, a história escreverá que nós retardamos o nosso processo de desenvolvimento econômico num governo que tem como prioridade número 1 combater a desigualdade.” Para Silveira, a preservação ambiental é prioridade do governo e o equilíbrio é possível, “se não houver extremismo no debate das políticas públicas”. Só não ficou claro se o extremismo a que se refere é da argumentação técnica e legalmente embasada do IBAMA ou de um segmento do governo que pressiona politicamente por petróleo de qualquer maneira, sem evidências claras dos alegados benefícios econômicos às populações locais e colocando em risco regiões de altíssima sensibilidade ambiental.
Em tempo 2: Petroleiras que operam no Brasil estão aumentando investimentos em pesquisas para captura, armazenamento e utilização de CO2 no Brasil, o CCUS. O desembolso ultrapassou R$ 1 bilhão entre 2020 e 2023, quase metade do R$ 1,8 bilhão aplicado em pesquisas sobre descarbonização desde 1999, segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) feito a pedido do Valor. A busca pela tecnologia visa não apenas buscar mecanismos para cumprir metas de descarbonização, mas também para gerar créditos para o mercado de carbono.
ClimaInfo, 18 de julho de 2023.
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