Com desmatamento recorde, Cerrado precisa de socorro imediato

Cerrado desmatamento
Marcio Sanches / WWF-Brasil

Os números da devastação no Cerrado são assustadores. Enquanto a Amazônia vem paulatinamente registrando queda no desmate, no bioma vizinho a destruição explodiu, com recordes sucessivos. O governo já começou os trabalhos para relançar o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Cerrado (PPCerrado), mas é preciso pressa.

Em carta publicada na Nature Sustainability, cientistas pedem prioridade ao Cerrado nas discussões diplomáticas internacionais. Para os especialistas, a nova lei da União Europeia que trata da importação de produtos livres de desmatamento transformou o bioma em uma “zona de sacrifício” para o desenvolvimento agrícola, destaca ((o))eco.

Os pesquisadores explicam que a lei de “due diligence” (investigação prévia para garantir ausência de irregularidades) da UE adota uma definição florestal rigorosa que deixa 74% do Cerrado desprotegido. “Internacionalmente, a legislação de ‘due diligence’ deve ser estendida com urgência para abranger savanas e outros biomas não florestais”, dizem.

Para os cientistas, reverter o desmatamento no bioma e manter seus serviços ecossistêmicos requer a ressurreição de estratégias tradicionais de conservação, como regulamentação mais rigorosa; aplicação da lei para limpeza de vegetação em propriedades privadas; e investimentos na expansão e melhor monitoramento de Áreas Protegidas e Terras Indígenas.

“O Cerrado está atualmente excluído dos principais esforços de sustentabilidade do agronegócio – notavelmente, a Moratória da Soja, um bem-sucedido acordo de desmatamento zero de várias partes que se aplica apenas ao bioma amazônico”, diz o documento, assinado por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Universidade Griffith, na Austrália, e da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica.

Por isso, são as grandes propriedades da região que hoje é alvo do agronegócio, o MATOPIBA – entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – que vêm puxando a eliminação do bioma, que já perdeu metade de sua vegetação natural para o agro. O que resta está fragmentado e concentrado na região.

Como lembra ((o)) eco, no MATOPIBA foram desmatados 367 mil ha (74,7%) dos 491 mil ha perdidos no bioma no primeiro semestre deste ano. Grandes propriedades rurais somaram 193 mil ha (48%). Imóveis médios respondem por 133 mil ha (33%) e pequenos por 76 mil ha (19%).

Em tempo 1: Candidata à presidência do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cujas eleições começam nesta 3ª feira (25/7), a cientista brasileira Thelma Krug alerta que as ondas de calor no Hemisfério Norte já são indissociáveis das mudanças climáticas. E segundo a especialista – que poderá ser a primeira mulher e a primeira latino-americana a presidir o IPCC –, o cenário só vai piorar se o mundo não agir rapidamente para conter as emissões de gases de efeito estufa. “A mudança do clima ocorre em uma velocidade sem precedentes. Isso é preocupante. Se continuar, quando entenderemos ser necessário implementar uma profunda redução de emissões para limitar o aquecimento a um nível que reduza os riscos?”, questiona, em entrevista n’O Globo.

Em tempo 2: O dinheiro dos diversos anúncios de doações ao Fundo Amazônia feitos desde a vitória de Lula nas eleições presidenciais do ano passado ainda não chegou. Somados, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e Suíça comunicaram que repassariam R$ 3,2 bilhões. Mas, segundo a Folha, nenhuma parcela foi entregue. A promessa mais antiga é a dos alemães, que anunciaram em novembro de 2022 o desbloqueio de R$ 187 milhões para o fundo. O novo repasse, no entanto, ainda não chegou. Segundo o BNDES, que gere o Fundo Amazônia, de todos os apoios anunciados, o da Alemanha é o que está com a burocracia mais avançada.

ClimaInfo, 25 de julho de 2023.

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