Investigação da PF revela tráfico de meninos indígenas para a Turquia

crianças índigenas tráfico humano
Vinícius Schmidt / Metrópoles

Depois das investidas de igrejas evangélicas sobre os Povos Originários, numa reedição da catequização promovida por católicos nos tempos da invasão do Brasil, nos séculos 16 e 17, agora é a vez de o Islã tentar converter indígenas. A ação, porém, vai além de conversão religiosa e envolve tráfico humano.

Jovens e crianças indígenas recebiam lições das línguas árabe e turca, do Alcorão e do Islã em uma associação em Manaus, no Amazonas, com a promessa de estudos com tudo pago na Turquia. Mas a investigação da Polícia Federal aponta para um esquema de doutrinação religiosa e tráfico de pessoas.

Cinco rapazes indígenas que participavam do programa foram deportados da Turquia recentemente. Sem visto de permanência, ficaram três semanas detidos em Istambul até embarcarem de volta ao Brasil com o turco Abdulhakim Tokdemir, apontado como líder da Associação Solidária Humanitária do Amazonas, a Asham, que chegou ao estado em 2019, informa o Fantástico. Coincidentemente ou não, a ação de Tokdemir se inicia justo no primeiro ano do governo do inominável.

As primeiras denúncias sobre a ação da Asham em São Gabriel da Cachoeira (AM), a cidade com a maior população indígena do país, na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, foram feitas pelo Metrópoles em abril. O grupo islâmico doutrinava e levava indígenas de diferentes etnias para a Turquia. Com a promessa de que os jovens teriam estudos pagos, pais entregaram seus filhos para a organização.

Ao menos oito pessoas, entre turcos e brasileiros, são suspeitas de envolvimento com o esquema. Segundo o Estadão, Tokdemir teve seu passaporte, computador e celular apreendidos e os sigilos fiscal e bancário quebrados.

“São indígenas em situação de absoluta vulnerabilidade e que se tornam, portanto, presas fáceis para essas organizações criminosas. A apresentação era feita como uma proposta de estudo na Turquia, a fim de que tivessem a possibilidade de se tornarem médicos, advogados, teólogos, engenheiros, quando, na verdade, o processo era de servidão, de imposição religiosa, de doutrinação”, explica o superintendente da PF no Amazonas, Umberto Ramos.

Além da vulnerabilidade social, São Gabriel da Cachoeira, onde crianças e jovens indígenas eram aliciados, sofre com o consumo descontrolado de bebidas alcoólicas, informa o g1. O Conselho Tutelar do município aponta que a cultura do consumo desenfreado dessas bebidas afeta até mesmo crianças.

Um indígena de 14 anos, da etnia Dessana, relatou que sofreu agressões dentro do internato ilegal da Asham em Manaus, que foi fechado em fevereiro deste ano. O adolescente disse que o então responsável pelo local – o turco Hakan Ugurlu, de 22 anos – havia o repreendido e empurrado contra a parede, sob a justificativa de que estaria “brincando” no momento da oração.

O adolescente relatou o caso à Fundação Nacional dos Indígenas (FUNAI) em outubro do ano passado, como consta em um relatório ao qual o Metrópoles teve acesso. O documento ainda relata que crianças e adolescentes indígenas realizavam a limpeza do internato e o preparo dos alimentos. “A alimentação se restringe a arroz e feijão, e em algumas vezes macarrão, sem presença de proteína de origem animal”, informa o relatório.

Brasil 247, BNC Amazonas e Metrópoles trataram do tema.

Em tempo 1: Na Terra Yanomami, continua o combate ao garimpo ilegal. As Forças Armadas destruíram uma pista de pouso clandestina que sustentava os criminosos no território. A ação, realizada em conjunto com agências e órgãos de segurança pública, destruiu a pista conhecida como Rangel, uma das principais vias usadas pelos invasores para acessar a TI, informam g1, O Globo e CNN. Além disso, a operação Ágata Fronteira Norte, que envolve Forças Armadas, Polícia Federal e IBAMA, prendeu mais três garimpeiros na região de Homoxi, uma das áreas com maior presença de garimpo ilegal no território, relata o g1.

Em tempo 2: Iniciada em 14 de julho na região da tríplice fronteira, no Amazonas, a operação Curaretinga IV apreendeu até o momento 11 dragas, além de diversos materiais empregados no garimpo ilegal, como motosserras, baterias, espingardas, celulares, balanças de precisão e uma motobomba, segundo o g1. Ainda de acordo com o g1, quatro dessas dragas foram destruídas neste fim de semana no Vale do Javari, região onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Philip foram assassinados.

Em tempo 3: O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prorrogou por mais 30 dias o uso da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) em ações na Terra Indígena Alto Rio Guamá, no Pará. O emprego da Força Nacional vai se dar em articulação com os órgãos de segurança pública do estado do Pará e com a FUNAI, sob a coordenação da Polícia Federal, explica o Valor.

ClimaInfo, 25 de julho de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.