Três anos após o Dia do Fogo, mais da metade da área queimada virou pasto

Dia do Fogo pasto 2023
Bruno Kelly / Greenpeace

Ação criminosa ocorreu em agosto de 2019, quando ruralistas do Pará combinaram via WhatsApp de incendiar a Floresta Amazônica a partir das margens da BR-163.

Três anos depois, 61% da área de floresta queimada no criminoso Dia do Fogo – que, embora convocado por grupos paraenses, não se restringiu ao estado – viraram pastagem. Mas nem tudo o que queimou virou espaço para o gado: 37,4% da área afetada permanecem floresta – só que agora degradada. 

Com base em dados do Monitor do Fogo, do MapBiomas, e do IPAM, o InfoAmazonia levantou que entre agosto e outubro de 2019 foram queimados nos estados da Amazônia Legal cerca de 11.500 km2, quase 10 cidades do Rio de Janeiro. Pará e Mato Grosso responderam por 65% do território incendiado.

Dos dez municípios que mais queimaram a floresta no episódio, Lábrea (AM) registrou a maior conversão para pastagem: 91,53%. A menor foi em Arame (MA), com 10,62% transformados em pasto e outros 89% em floresta degradada.

Em São Félix do Xingu, no Pará – que foi a cidade que mais queimou floresta no Dia do Fogo –, 48,7% da área incendiada viraram pasto; em Altamira (PA), 75,44% foram convertidos em pasto; em outro município paraense, Novo Progresso, 67,15% viraram pasto, e 31,37%, floresta degradada.

Líder absoluto de desmatamento desde 2006 entre os estados amazônicos, o Pará coleciona alguns marcos negativos. O maior emissor de gases de efeito estufa do país também é o campeão de multas ambientais no primeiro semestre de 2023. Um levantamento feito pela DW e reproduzido pela TV Cultura a partir de dados do IBAMA mostra que o valor das infrações nesse período ultrapassa R$ 18 milhões, considerando apenas irregularidades no licenciamento ambiental.

Para Daniel Azeredo, procurador da República e coordenador do projeto Amazônia Protege, do Ministério Público Federal, uma das medidas mais impactantes que o Poder Judiciário pode adotar no combate ao desmatamento ilegal da Amazônia é apreender o produto do crime. Ou seja, a área pública ilegalmente ocupada e destruída.

“Há décadas, as organizações criminosas que operam na Amazônia se apropriam ilegalmente de extensas áreas públicas. A falta de recuperação desse patrimônio propicia o crescimento estrutural e financeiro da criminalidade”, avalia ele, em artigo no Estadão.

Em tempo: As queimadas no sul do Amazonas se intensificaram com a chegada do verão amazônico. Durante um sobrevoo do Greenpeace, a Rede Amazônica avistou extensas áreas da Floresta Amazônica sendo destruídas por fogo e desmatamento. Uma das regiões que a equipe sobrevoou é o distrito de Santo Antônio do Matupi, em Manicoré. A área pertence à União e, por lei, deveria ser preservada. A região é conhecida pela forte presença de grileiros e madeireiros ilegais. Como consequência, queimadas criminosas destroem a floresta e cobrem o céu de fumaça.

ClimaInfo, 7 de agosto de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.