Mesmo com pressão de indígenas e ambientalistas, Cúpula não abordará fim de petróleo na Amazônia

Cúpula da Amazônia pressão petróleo
PR

A demanda de indígenas e ambientalistas contra a produção de petróleo na Amazônia não deve ser abordada pelos líderes presentes na Cúpula da Amazônia nesta semana.

De acordo com a Folha, a declaração a ser assinada pelos presidentes e ministros da região não mencionará o termo “combustíveis fósseis”, pois os países amazônicos não chegaram a um entendimento sobre o tema. A Colômbia de Gustavo Petro é a principal defensora do veto a novos projetos de óleo e gás na Amazônia. Já o governo brasileiro, que ainda discute o projeto da Petrobras para exploração petrolífera na costa do Amapá, prefere manter aberta a possibilidade.

Como destacou a BBC Brasil, a posição brasileira na discussão sobre combustíveis fósseis na Amazônia contradiz seu próprio interesse em se colocar como protagonista na luta contra a mudança climática. Ao mesmo tempo em que destaca o combate ao desmatamento como objetivo fundamental de sua política externa para o clima, o Brasil insiste em produzir petróleo mesmo em áreas sensíveis na própria Amazônia.

Na CNN Brasil, Caio Junqueira classificou a discussão sobre petróleo na Amazônia como o “bode na sala” da Cúpula de Belém. “As negociações para a declaração final da Cúpula visam evitar abordar tópicos que o governo Lula prefere não discutir”, disse.

Enquanto o Palácio do Planalto segue reticente em discutir o assunto, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) não foge das perguntas e continua defendendo que o Brasil avance na transição energética para fontes renováveis.

“[A exploração da foz do Amazonas] não coloca [o governo em xeque], porque a humanidade ainda não tem como prescindir do uso das fontes de geração de energia fóssil. Agora, os países que podem reduzir ao máximo essa fonte de geração, como é o caso do Brasil, que pode ter uma matriz energética 100% limpa, devem fazer os investimentos”, afirmou à Folha.

Sobre o projeto da Petrobras no Amapá, Marina reiterou que a análise do IBAMA sobre um novo pedido de licenciamento será técnica, como aquela feita em maio, quando negou a liberação do empreendimento. “O IBAMA não dificulta, nem facilita, o IBAMA tem um parecer técnico que deve ser observado”, disse a ministra, citada por CartaCapital, CNN Brasil, O Liberal e Poder360.

A análise técnica do IBAMA, entretanto, segue sendo atacada pelos defensores da exploração petrolífera na Margem Equatorial. Em um dos painéis dos Diálogos Amazônicos, o senador Randolfe Rodrigues fez um verdadeiro malabarismo retórico: ao mesmo tempo em que celebrou o respeito à ciência pelo governo, depois do negacionismo oficial dos era Bolsonaro, o parlamentar voltou a criticar o parecer negativo do IBAMA ao projeto da Petrobras.

“A posição do governo é respeitar a ciência e a técnica, o tempo da desobediência à ciência e à técnica acabou no país. (…) Mas a Amazônia também são 25 milhões de humanos que aqui estão e para isso tem que se debater com eles as alternativas de geração de renda e emprego”, disse Randolfe. CartaCapital e ((o)) eco repercutiram essa fala.

Em tempo 1: Os Povos Indígenas da Amazônia pretendem reforçar sua oposição a projetos de combustíveis fósseis em seus territórios. Em entrevista à Agência Pública, Toya Manchineri, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), antecipou que a demanda será apresentada em uma declaração a ser entregue aos líderes dos países amazônicos na Cúpula. “A exploração de petróleo no território traz apenas doenças para a população, não fica nenhum recurso para a comunidade. Muito pelo contrário, o que fica para os Povos Indígenas, quando há derramamento de petróleo, são os rios e os peixes contaminados”, destacou. A declaração foi fechada ontem em reunião de Povos Amazônicos atingidos pela exploração de Petróleo realizada em Belém do Pará.

Em tempo 2: Ontem também ocorreu uma manifestação contrária à exploração do petróleo na Amazônia no espaço dos Diálogos da Amazônia.

ClimaInfo, 7 de agosto de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.