Quilombolas cobram governo da Bahia por investigações sobre assassinato de Bernadete Pacífico

Bernadete Pacífico
CONAQ

Assassinato de Bernadete coloca em xeque programa de proteção a defensores dos Direitos Humanos na Bahia. Governador minimiza hipótese de crime encomendado por conflito fundiário.

O governo da Bahia está revisando seus procedimentos de proteção de defensores de Direitos Humanos após o brutal assassinato da líder quilombola Bernadete Pacífico na última 5ª feira (17/8) em Simões Filho (BA). Mesmo fazendo parte de um programa especial que visava garantir sua segurança, Bernadete estava sozinha com os netos na hora do ataque, sem qualquer agente de segurança pública ou monitoramento adequado das câmeras de segurança.

De acordo com a Agência Brasil, a Bahia conta hoje com 94 defensores de Direitos Humanos sob proteção, entre lideranças quilombolas, indígenas e trabalhadores rurais. Um levantamento da Coordenação Nacional de Articulação dos Quilombos (CONAQ) apontou que, das 30 mortes de quilombolas registradas na última década no Brasil, 11 ocorreram na Bahia.

A morte de Bernadete coloca em xeque as garantias de proteção do estado baiano para essas lideranças. O Brasil de Fato destacou as lacunas do programa de proteção a defensores de Direitos Humanos no estado, como as rondas insuficientes e as câmeras quebradas que deveriam vigiar 24 horas por dia a residência dela.

Sobre as investigações, a Polícia Civil da Bahia ainda trabalha na identificação dos assassinos. O governador Jerônimo Rodrigues disse nesta 2ª feira (21/8) que a principal linha de investigação indica que o crime seria resultado de uma “disputa de facções criminosas”. Como o g1 assinalou, essa hipótese contraria o contexto no qual o crime ocorreu, marcado pelo conflito entre quilombolas e fazendeiros por terras.

Pessoas próximas à Mãe Bernadete refutaram essa possibilidade, argumentando que a líder quilombola era alvo frequente de ameaças de fazendeiros e grileiros interessados em tomar terras do quilombo. Uma suspeita é de que invasores de terra estariam articulados com um policial para facilitar a retirada ilegal de madeira no território.

Os familiares de Mãe Bernadete foram retirados do Quilombo Pitanga do Palmares como medida de proteção. Um dos netos da líder quilombola, Wellington dos Santos, conversou com Fantástico (TV Globo) sobre o crime e o sentimento de terror e revolta na comunidade. “Orunmilá nos ensina que a gente deve honrar nossos antepassados. Minha missão na Terra é essa: preservar a memória deles, não deixar aqui que essa história se apague”, disse Wellington, que também é filho de Flávio Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, assassinado em 2017.

 

ClimaInfo, 22 de agosto de 2023.

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