Al Gore: indústria fóssil “capturou” negociações climáticas da COP28

COP28 petrolífera
Montagem ClimaInfo UNFCC COP28 / Pixabay

O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore diz que empresas fósseis e petro-Estados não são “participantes de boa-fé” no processo de negociação climática na ONU. 

A proximidade cada vez maior da indústria de combustíveis fósseis e o processo de negociação internacional sobre clima da ONU causa preocupação em um “grau perturbador”, alertou o ex-vice-presidente dos EUA e Prêmio Nobel da Paz Al Gore na última 4a feira (13/9). Para ele, está na hora de abandonar a suposição errada de que esses atores, bem como os governos exportadores, são “participantes de boa-fé”.

“Simplesmente não é realista acreditar que eles [indústria fóssil e petro-Estados] vão assumir a liderança na resolução desta crise”, disse Gore durante evento em Nova York. “Eles capturaram o processo da ONU a um nível perturbador, colocando mesmo o CEO de uma das maiores empresas petrolíferas do mundo como presidente da COP [Sultan Al-Jaber]”. 

Esta é a crítica mais clara e direta ao comando da COP28 feita por uma liderança política internacional. O conflito de interesses que permeia a presença de Al-Jaber como presidente da conferência vem sendo repetidamente destacada por ativistas climáticos, que também criticam a pretensão do executivo de dar mais espaço à indústria de combustíveis fósseis nas negociações climáticas.

Gore também mirou o processo decisório da ONU nas negociações climáticas, criticando a necessidade de consenso total entre os países para aprovação de qualquer acordo. Pelo sistema vigente, mesmo se apenas um país recusar a proposta, a decisão não poderá ser aprovada. “É um tanto absurdo que o mundo tenha que pedir permissão à Arábia Saudita, por favor, para falar sobre soluções para a crise climática.”

Axios, Bloomberg, Financial Times e Oil Price destacaram as críticas de Gore. Já o NY Times fez um perfil de Al-Jaber, destacando os serviços prestados pelo executivo à indústria fóssil. Em entrevista, o executivo defendeu-se das críticas feitas pela sociedade civil à indicação dele à presidência da COP28. Ele também reiterou sua pretensão de colocar a indústria fóssil na mesa de negociação, de forma a superar as “difamações mútuas” entre essas empresas e os ativistas climáticos.

Em tempo: Mais de 200 grupos da sociedade civil apresentaram uma carta ao governo dos Emirados Árabes Unidos e ao secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) pedindo a revogação de leis que facilitam a perseguição de dissidentes políticos e críticos das autoridades do país. “Os lobistas dos combustíveis fósseis e os executivos do petróleo estarão livres para percorrer os corredores [da COP], enquanto os ativistas do clima e dos Direitos Humanos estarão ocupados se preocupando com o fato de ter seus telefones espionados ou se serão presos se falarem alto demais”, disse Sunjeev Bery, a Freedom Forward, que articulou a carta, à Reuters.

 

ClimaInfo, 15 de setembro de 2023.

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