Guterres critica incapacidade dos países se unirem para ação climática

Guterres Climate Week 2023
Reprodução vídeo The Guardian

O mundo se aproxima de “grande fratura”, com a crise climática, tensões geopolíticas e guerra, observou o secretário-geral da ONU na abertura da Assembleia Geral.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, não deixou meias palavras em sua fala à Assembleia Geral nesta 3ª feira (19/9). Em um discurso repleto de contundência, o líder português alertou a comunidade internacional para os perigos do fracasso do multilateralismo em um mundo mergulhado em crises múltiplas e simultâneas, como a mudança climática.

“Nosso mundo está desequilibrado. As tensões geopolíticas estão aumentando. Os desafios globais estão se intensificando. E parecemos incapazes de nos unir para responder. Enfrentamos uma série de ameaças existenciais – desde a crise climática às tecnologias disruptivas – e fazemos isso num momento de transição caótica”, disse Guterres. “A governança global está presa no tempo”.

O secretário-geral da ONU destacou a letargia das lideranças políticas internacionais à verdadeira procissão de desastres climáticos que se acumulam no noticiário. “Acabamos de sobreviver aos dias mais quentes, aos meses mais quentes e ao verão mais quente da história [no Hemisfério Norte]. Por trás de cada recorde quebrado, estão as economias quebradas, as vidas quebradas, nações inteiras à beira do colapso. Mas não tenho certeza se todos os líderes estão percebendo isso”, observou.

Sobre o limite de 1,5oC ao aquecimento global neste século, definido pelo Acordo de Paris e cada vez mais difícil de ser atingido, Guterres reiterou que a meta ainda é possível, mas exige medidas substanciais imediatas por parte de governos, em especial das economias mais ricas do planeta. “Devemos acabar com o vício em combustíveis fósseis, parar com [a queima de] carvão e se atentar às conclusões da Agência Internacional de Energia de que novos projetos de petróleo e gás são incompatíveis com a manutenção do 1,5oC”. 

A fala contundente de Guterres foi repercutida por diversos veículos, como Associated Press, CNN, El País, Euronews, Guardian, NY Times e Wall Street Journal, além do Valor.

Em tempo: A meta dos US$100 bilhões anuais para financiamento climático, prometida pelos países desenvolvidos, deve finalmente ser cumprida em 2023, com três anos de atraso. De acordo com o Climate Home, ministros do Canadá e da Austrália estão “confiantes” de que a meta será atingida neste ano, mas alertaram que os dados relativos ao financiamento devem demorar mais um pouco para serem sistematizados. Assim, eles indicam que apenas em 2025 poderemos saber se a meta foi efetivamente atingida neste ano. O atraso na confirmação irritou ativistas e negociadores de países em desenvolvimento, que questionam a seriedade do compromisso e do engajamento das nações desenvolvidas.

 

ClimaInfo, 20 de setembro de 2023.

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