Desmatamento destrói até 92% no entorno de Terras Indígenas na Amazônia

desmatamento em volta TIs
Porto Velho (RO) Funai, Landsat / Copernicus via Google Earth

As áreas ocupadas por Povos Indígenas representam um quarto da Amazônia e só perderam 1,5% da vegetação primária, tornando-se “ilhas verdes” barrando supressão da floresta.

Uma área equivalente a 278 mil campos de futebol foi desmatada numa faixa de 10 km no entorno imediato da Terra Indígena Karipuna, em Rondônia. A devastação da floresta do entorno contrasta com a natureza quase intocada na TI. A pressão, no entanto, é constante. Na última década, invasões de grileiros e para a extração ilegal de madeira multiplicaram a devastação interna de 6 km² para 71 km² – cerca de 5% da área do território.

O caso Karipuna é um dos muitos exemplos da ameaça crescente às Terras Indígenas na Amazônia. No alvo dos defensores da tese do marco temporal, esses territórios são algumas das últimas barreiras ao avanço do desmatamento no bioma. Com a expansão da fronteira agrícola, muitas TIs se tornaram “ilhas verdes” cercadas de pastagens e lavouras. Imagens de satélite exibidas pela Folha mostram como o desmatamento avançou até o entorno imediato de algumas dessas áreas.

O desmate já supera metade da vegetação nativa no entorno de 36 TIs alcançadas pela fronteira agrícola da Amazônia, e chega a 92% nas bordas da reserva Sororó, em São Geraldo do Araguaia (PA). Os cálculos consideram uma distância de 10 km dos limites de cada Terra Indígena, explica a Folha.

Com base em dados do INPE até 2022, a análise indica o solo indígena como a categoria fundiária mais preservada da Amazônia. As 327 áreas ocupadas por Povos Originários representam um quarto do bioma e só perderam 1,5% da vegetação primária. Já a supressão é de 24% no restante da região.

Especialistas alertam que a aceleração do desmatamento, estimulada pela insegurança jurídica e pela fragilização das garantias de proteção do Estado, pode reverter o cenário de conservação ambiental nas Terras Indígenas. E isso terá graves consequências no agravamento da crise climática.

“Temos um passivo de demarcação no Brasil. Hoje, quem faz a defesa territorial são muitas vezes os próprios Povos, colocando suas vidas em risco e em muitos casos morrendo por causa dessa disputa”, diz Martha Fellows, coordenadora do núcleo de estudos indígenas do IPAM.

No Um só planeta, Gustavo Nascimento lembra a assustadora correlação entre alto desmatamento e baixo desenvolvimento na Amazônia, detectada  pelo Índice de Progresso Social (IPS) 2023, produzido pelo Imazon. Isto é um grito de alerta não apenas para a garantia dos Direitos dos Povos Indígenas, por sua comprovada capacidade de preservação, mas também para a necessidade de mais ações para deter a degradação.

Em tempo: Em mais um episódio de violência contra indígenas, a adolescente Maria Clara Batista Vieira, de 15 anos, morreu em um hospital em Caiena, capital da Guiana Francesa, após ser estuprada e quase afogada em uma área de pântano no município de Oiapoque, no Amapá, informam Folha e g1. A vítima era do Povo Karipuna e vivia na aldeia do Manga. O acusado do assassinato, Cláudio Roberto da Silva Ferreira, de 43 anos, teve a prisão preventiva decretada. Coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Amapá e Norte do Pará e ex-secretária dos Povos Indígenas, Simone Karipuna lamentou a morte da adolescente.

 

ClimaInfo, 21 de setembro de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.