Brasil se envolve em projeto de gás contestado na Argentina

Freepik

A 7ª Cúpula da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) será realizada na segunda-feira (23/1), em Buenos Aires. O governo argentino vai usar a oportunidade para envolver o Brasil em um projeto de energia suja com graves implicações ambientais, climáticas e aos direitos humanos. 

Se o Brasil apoiar esse projeto, estará usando dois pesos e duas medidas em sua política internacional: enquanto conversa com países amazônicos sobre a necessária preservação da floresta para o enfrentamento da crise climática e cumprimento do Acordo de Paris, com a Argentina o Brasil estaria apoiando uma iniciativa que aumenta não só a emissão de gases de efeito estufa, como também a dependência econômica dos dois países sem relação aos combustíveis fósseis.

Vaca Muerta é um projeto de extração de gás metano por meio de fracking (fraturamento hidráulico), uma técnica que provoca abalos sísmicos, poluição do solo e de corpos d’água, como rios, nascentes e aquíferos. Essa forma de extração inventada nos EUA é proibida em muitas partes do mundo, incluindo inúmeras cidades brasileiras e em alguns estados, como o Paraná

O projeto foi apresentado pelas autoridades argentinas como uma “salvação”, sobretudo pelo potencial de angariar investimentos estrangeiros que poderiam estabilizar os problemas cambiais do país. No mundo real, a iniciativa tem encontrado enormes problemas de financiamento precisamente pelos abusos ambientais e sociais que já afetam as comunidades, sobretudo os indígenas. 

Vaca Muerta já consumiu volumosos recursos públicos e ainda não foi plenamente concluído. O governo acredita que a extensão do Gasoduto Nestor Kirschner, levando o gás extraído aos centros de consumo em Buenos Aires – e possivelmente até o território brasileiro – finalmente dará viabilidade econômica ao projeto. Um financiamento do BNDES neste sentido já vinha sendo negociado pelo governo Bolsonaro

O Brasil já é um dos compradores deste gás. A expansão do gasoduto até o território nacional pode amarrar o setor energético brasileiro a contratos que serão desvantajosos no futuro, encarecendo a conta de luz e tornando mais difícil o cumprimento da meta de emissões zero líquidas até meados do século.  

Se você planeja cobrir esta visita de Lula à Argentina, gostaria de oferecer informações sobre os riscos que o Brasil corre caso aceite se associar ao polêmico projeto de Vaca Muerta: 

  •  Neste link você encontra um Fact-Sheet em espanhol sobre o que Vaca Muerta têm representado para o setor energético argentino, para a economia e para as comunidades; 
  •  Porta-vozes argentinos disponíveis para entrevistas:
    • Javier Grosso, geólogo, especialista em terremotos
    • Alejo di Risio, Portavoz do grupo de advogados ambientalistas
    • Fernando Cabrera, do Observatorio Petrolero Sur, em Neuquen (pode estar em férias na semana que vem)
  •  Por favor, converse com Nicole Figueiredo, diretora do Instituto Arayara, para ouvir uma posição crítica ao envolvimento do Brasil com o fracking argentino. 
  •  Estas imagens e este vídeo estão livres para uso mediante crédito: Periodistas por el Planeta

ClimaInfo, 20 de janeiro de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.