Puxada pelo Brasil, América Latina caminha para ser gigante de energias renováveis

Freepik

Novo levantamento indica que projetos de grande escala anunciados levariam a crescimento de 460% na capacidade solar e eólica da região

Se todos os novos projetos de energia solar e eólica em grande escala forem concretizados, a América Latina, sob a forte liderança do Brasil, poderá se tornar um dos principais atores do mercado global de renováveis, afirma uma nova análise do GEM (Global Energy Monitor). O aumento previsto seria de 319 gigawatts (GW) – 460% em relação ao patamar atual – até 2030. Somente os planos brasileiros têm o potencial de adicionar 217 GW deste montante. 

Com isso, o subcontinente estaria atrás apenas da Ásia Oriental, onde a China é o país-líder em adições futuras. 

Esses projetos de maior escala somados à expansão prevista da energia solar distribuída e de menor escala permitiriam à América Latina superar as metas regionais de energia renovável com emissões zero líquidas da Agência Internacional de Energia para 2030. O aumento de fontes renováveis também favorece o florescimento da indústria de hidrogênio verde, diz o texto. 

Os cinco principais países da região em termos de possíveis adições (em projeto ou anunciados) à capacidade de produção solar e eólica em grande escala são: 

  1. Brasil (217 GW)
  2. Chile (38 GW)
  3. Colômbia (37 GW)
  4. Peru (10 GW)
  5. México (7 GW)

Os cinco principais países em termos de produção em operação de energia solar e eólica em grande escala são:

  1. Brasil (27 GW)
  2. México (20 GW)
  3. Chile (10 GW)
  4. Argentina (5 GW)
  5. Uruguai (2 GW)

Com uma capacidade conjunta de mais de 57 GW, Brasil, Chile, Colômbia e México representam quase 84% dos 69 GW existentes de parques solares e eólicos em grande escala que estão atualmente em operação na região. Mas enquanto Brasil, Chile e Colômbia estão na vanguarda da corrida das energias renováveis, o México ficou para trás e só deve atingir 70% de sua promessa de trazer 40 GW de energia solar e eólica até 2030, mesmo que todos os projetos previstos entrem em operação.

“Embora a energia solar distribuída possa estar no cerne da transição para as energias renováveis na América Latina, a região também está em um ponto de inflexão importante quando se trata de apoiar projetos de grande escala que poderiam transformá-la em uma gigante global de energia”, avalia Kasandra O’Malia, Gerente de Projetos do Global Solar Power Tracker, o rastreador de projetos solares da GEM. 

Para Sophia Bauer, pesquisadora da GEM, a disputa pela dianteira deste páreo continuará acirrada nesta década. “A corrida pelas energias renováveis está se acelerando rapidamente, o que significa que países que fizeram mais esforços até aqui, como Brasil e Colômbia, devem permanecer vigilantes enquanto criam projetos solares e eólicos em larga escala.”

“A América Latina pode se tornar uma referência mundial para uma transição energética justa se os projetos futuros respeitarem os equilíbrios ecológicos e trouxerem não apenas benefícios econômicos, mas também sociais”, conclui Bauer. 

“O relatório reforça o potencial do Brasil, em especial do Nordeste, para se tornar um dos líderes mundiais em energia renovável”, avalia Cristina Amorim, coordenadora do Plano Nordeste Potência. “Mas antes o país precisa fazer algumas lições de casa – em especial, planejar a expansão lado a lado e com o respeito a comunidades rurais e tradicionais, além de cuidar dos impactos ambientais. Atrás dos gigawatts, há oportunidades para o país crescer de forma sustentável e responsável”, conclui Amorim

”A análise aborda como esse cenário de expansão favorece também o impulso ao hidrogênio verde”, observa Ricardo Baitelo, Gerente de Projetos do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente). “Neste caso, não estamos mais falando apenas de descarbonizar a matriz elétrica do Brasil, mas também a matriz energética, incluindo transportes e indústria. Isso pode nos ajudar a ter uma NDC [meta sob o Acordo de Paris] mais ambiciosa, permitindo que a América Latina ajude o mundo a fechar o intervalo que ainda existe entre os compromissos climáticos dos países, e aquilo que precisa ser reduzido para manter o aquecimento abaixo de 1,5C”, completa Baitelo.

Sobre a Global Wind and Solar Power Tracker

A Global Wind Power Tracker cataloga 13.710 fases operacionais de parques eólicos em grande escala gerando 729 GW em 149 países e mais 5.566 projetos em potencial que gerariam 1.215 GW.

A Global Solar Power Tracker cataloga 6.139 fases de parques solares em grande escala, totalizando 366 GW em 152 países, e 6.532 projetos em potencial adicionais que teriam o potencial de atingir 979 GW. A energia solar em grande escala representa cerca de 35% da capacidade de produção de energia solar global total, com os 65% restantes sendo instalações residenciais e comerciais.

A Global Energy Monitor (GEM) desenvolve e compartilha informações para dar apoio ao movimento mundial por energia limpa. Através do estudo do cenário energético internacional em evolução, criando bancos de dados, relatórios e ferramentas interativas que melhoram a compreensão, a GEM procura construir um guia aberto para o sistema energético mundial. Entre os usuários dos dados e relatórios da GEM estão a Agência Internacional de Energia, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Banco Mundial.

__________

ClimaInfo, 10 de março de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.