Brasil se isola como único da América Latina com novos projetos de carvão

Freepik

O GEM (Global Energy Monitor) divulgou no dia 6 de abril de 2023 seu 9º relatório anual Boom and Bust, que trouxe um balanço da capacidade global de produção de energia a carvão. O documento fez um alerta: o Brasil é o último país da América Latina que ainda tem projetos de carvão. 

Os analistas do GEM destacam a oportunidade que o Brasil tem de se tornar um país “livre de carvão” abandonando esses projetos e programando o desligamento das poucas usinas existentes. O montante de energia que essas usinas entregam é baixo e consome atualmente bilhões em subsídios anuais – custo diluído na conta de todos os consumidores do país. 

Gregor Clark, gerente do Portal Energético para a América Latina do GEM, disse:

“O Brasil tem a oportunidade de mostrar liderança na luta contra as mudanças climáticas ao cancelar o desenvolvimento de novas usinas a carvão. O impacto de tal decisão seria especialmente notável dado que o carvão brasileiro é ainda mais ineficiente e poluente do que carvões de outras regiões do mundo.”

Release completo oficial da GEM com foco no Brasil. 

Globalmente, o documento destaca que, para cumprir a meta climática de eliminar o carvão até 2040, o mundo precisa reduzir coletivamente uma capacidade média de energia de carvão de cerca de 117 GW ao ano. Este ritmo é no mínimo 4,5 vezes mais rápido do que o atual. O documento também salienta a necessidade de cancelar quaisquer novos projetos de carvão em qualquer parte do mundo. 

Neste link você pode ler o release global da GEM. E aqui está o relatório completo embargado, que destaca:

  • Globalmente, o carvão em operação cresceu 19,5 GW, ou menos de 1%, em 2022. Mais da metade (59%) dos 45,5 GW da nova capacidade comissionada estava na China, com 14 países no total adicionando nova potência de carvão. Fora da China, o carvão continuou a diminuir, embora a um ritmo mais lento do que nos anos anteriores.
  • A capacidade total de energia a carvão em desenvolvimento – incluindo fases de pré-construção e construção – permaneceu relativamente estável desde 2019 após um colapso significativo em relação às altas de 2014. O número atingiu um recorde de baixa de 479 GW em 2021, mas voltou a atingir 537 GW em 2022, um aumento de 12% ao ano liderado pela China. 
  • Após a União Europeia ter aposentado um recorde de 14,6 GW de capacidade de carvão em 2021, a crise do gás e a invasão russa da Ucrânia provocaram uma desaceleração nesta tendência, com apenas 2,2 GW aposentados no último ano. Mas o que parecia ser um pico na capacidade de carvão acrescentou apenas 1% à geração total de carvão da UE em 2022. Espera-se que os reinícios temporários e as extensões emergenciais sejam em geral eliminados nos próximos anos. 
  • Os Estados Unidos lideraram a aposentadoria do carvão com 13,5 GW aposentados em 2022. Para atender às metas nacionais de energia e clima, o ímpeto contínuo de afastamento do carvão precisa ser acelerado.
  • A Índia enviou sinais mistos em relação ao seu uso futuro do carvão. O país tem 28,5 GW de capacidade de energia elétrica a carvão planejados, mais 2,6 GW em 2022, e 32 GW de capacidade de energia elétrica a carvão em construção.
  • Apesar da crise de preços de energia e da guerra da Ucrânia, a UE retirou 2 GW de capacidade de energia a carvão.
     

O Brasil possui as últimas propostas de usinas de carvão restantes na América Latina 

Baixe o relatório (PDF; Português)

O desenvolvimento de novas usinas de carvão na América Latina desacelerou nos últimos anos, deixando apenas o Brasil com capacidade de carvão na fase de pré-construção, de acordo com a nona pesquisa anual do Global Energy Monitor sobre a frota global de usinas de carvão. 

No final de 2022, a região possuía apenas 1,8 gigawatts (GW) de energia a carvão nas fases de pré-licenciamento, licenciamento ou construção, uma redução de 82% em relação aos 10,1 GW que estavam em desenvolvimento em 2015. 

Embora funcionários do governo nos estados produtores de carvão, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, continuem a apoiar o novo desenvolvimento de carvão, todas as usinas a carvão atualmente propostas no Brasil permanecem paralisadas devido à concorrência de fontes alternativas mais limpas, bem como à falta de financiamento.

Pontos-chave

  • O relatório conclui que as desativações globais da capacidade de geração a carvão atingiram 26 gigawatts (GW) em 2022, e outros 25 GW receberam uma data anunciada de fechamento para 2030. A quantidade de capacidade a carvão planejada nos países em desenvolvimento, excluindo a China, caiu 23 GW. No entanto, a capacidade planejada da China aumentou em 126 GW, compensando em muito as reduções no resto do mundo. 
  • Para permanecer no caminho certo, todas as usinas a carvão existentes devem ser desativadas até 2030 nos países mais ricos do mundo e até 2040 nos demais países, e não há espaço para novas usinas a carvão entrarem em operação. Embora a capacidade de energia a carvão recém-proposta tenha diminuído significativamente, o mundo não está aposentando as usinas a carvão existentes com rapidez suficiente.
  • A eliminação gradual da energia a carvão operacional até 2040 exigiria uma média de 117 GW de desativações por ano, ou quatro vezes e meia a capacidade desativada no ano passado. Uma média de 60 GW deve ficar off-line nos países da OCDE a cada ano para cumprir o prazo de eliminação do carvão de 2030 e, para países não pertencentes à OCDE, 91 GW a cada ano para o prazo de 2040. A contabilização de usinas a carvão em construção e em consideração (537 GW) exigiria cortes ainda mais acentuados.
     

“Quanto mais novos projetos de carvão entrarem em operação, mais acentuados serão os cortes e encargos no futuro”, disse Flora Champenois, principal autora do relatório e gerente de projetos do Rastreador Global de Usinas a Carvão do Global Energy Monitor. “Nesse ritmo, a transição do carvão para fontes de energia mais limpas não está acontecendo com rapidez suficiente para evitar o caos climático. O IPCC e a ONU renovaram o protocolo para diminuir a energia do carvão globalmente, o que pode ser nossa última chance de evitar o pior dos danos de um planeta em aquecimento”.
 

“O Brasil tem a oportunidade de mostrar liderança na luta contra as mudanças climáticas ao cancelar o desenvolvimento de novas usinas a carvão. O impacto de tal decisão seria especialmente notável dado que o carvão brasileiro é ainda mais ineficiente e poluente do que carvões de outras regiões do mundo”, disse Gregor Clark, gerente do Portal Energético para a América Latina do Global Energy Monitor. “Ao deixar definitivamente o carvão para trás e seguir aproveitando os abundantes recursos eólicos e solares nacionais, o Brasil pode reforçar sua reputação como campeão regional de energia limpa”

O Dr. Jan Minx do MCC e da Universidade de Leeds, autor principal coordenador do capítulo sobre tendências e fatores de emissões no sexto relatório anual (AR6 WG2) do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), disse

“O IPCC deixa isso muito claro em seu sexto e mais recente relatório de avaliação. Criticamente, os países do mundo devem fazer uma coisa imediatamente para limitar o aquecimento global a 1,5°C: sair do carvão agora. Em 2030, as emissões de CO2 do uso global de carvão são normalmente reduzidas em cerca de 70% em comparação com 2020. Isso é o que vemos de maneira muito consistente nas simulações do modelo.”

Sobre o Global Energy Monitor

O Global Energy Monitor (GEM) desenvolve e compartilha informações sobre projetos de energia em apoio ao movimento mundial por energia limpa. Ao estudar o cenário energético internacional em evolução e criar bancos de dados, relatórios e ferramentas interativas que melhoram a compreensão, o GEM busca construir um guia aberto para o sistema energético mundial. Para obter mais informações, visite o site.

__________

ClimaInfo, 5 de abril de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.