Nestlé tem plano net-zero falho exposto antes de Assembleia Geral

Thibault Penin | Unsplash

Empresa promete reduzir emissões em 50% até 2030, mas só cortou 1% desde 2018

 


 Enquanto a Nestlé iniciou hoje (20) sua Assembleia Geral de Acionistas (AGM), organizações da sociedade civil fizeram uma ação para envergonhar a empresa, que é uma das maiores empresas de alimentos do mundo. 

 Com projeções no edifício sede da companhia e em montanhas da Suíça, os ativistas cobram que a empresa “CORTE O METANO” e “SE TORNE LIMPA JÁ”. Imagens do ator George Clooney foram espalhadas pelo prédio com os dizerem “Não falamos sobre Metano”. 

As projeções acompanham o lançamento do último relatório da Changing Markets Foundation intitulado Integridade Net-Zero: O ponto cego de metano da Nestlé. A pesquisa afirma que é improvável que a empresa atinja sua meta de redução de 50% até 2030 – até agora, a Nestlé reduziu suas emissões em apenas 1% desde 2018. Segundo os autores do estudo, os planos climáticos da empresa não estão de acordo com o que é exigido pela ciência para cumprir a meta de limitar o aquecimento da Terra a 1,5ºC.

 O relatório considera o roteiro climático da Nestlé fraco – falhando completamente em quatro e cumprindo apenas parcialmente outras cinco recomendações relevantes do prestigioso relatório apoiado pelo Secretário Geral da ONU, António Guterres. Este documento da ONU, que indica como devem ser os planos corporativos net-zero, solicita que emissões substanciais de outros gases de efeito estufa, além do dióxido de carbono (CO2), sejam relatadas e direcionadas separadamente. Entretanto, a Nestlé não tem nenhum plano específico para tratar de suas emissões de metano. 

 O total de emissões de metano da Nestlé, somente em suas operações leiteiras, é estimado em 8,74 milhões de toneladas de CO2 equivalente. O IPCC e vários outros relatórios científicos recentes destacam o papel crucial que a redução das emissões de metano desempenha para a meta de 1,5ªC de aquecimento global máximo neste século.

“O não cumprimento dos padrões da ONU não só significa que os planos da Nestlé para o net-zero não têm substância, mas também correm o risco de ser uma peça de greenwashing”, disse Maddy Haughton-Boakes, Conselheira de Campanha da Fundação Change Markets.

 “O que é especialmente preocupante é que a Nestlé não tem nenhuma meta específica de redução de metano – o que é surpreendente quando sua produção de laticínios por si só emite cerca do dobro de metano que todo o setor pecuário da Suíça”, continua Haughton-Boakes

 “A Nestlé está com a cabeça enfiada na areia sobre a questão do metano há muito tempo, e por isso trouxemos a mensagem para sua sede – a ciência climática não pode mais ser ignorada por um grande poluidor climático como a Nestlé”, afirma conselheira. Ela cobra que a empresa coloque seu plano net-zero em conformidade com as recomendações da ONU até a COP28, em dezembro deste ano, estabelecendo uma meta específica de metano de pelo menos 30% até 2030, em linha com o Compromisso Global de Metano. “Esperamos que seus acionistas vejam isto e façam algumas perguntas difíceis”, dispara Haughton-Boakes.

 “O fracasso da Nestlé em estabelecer uma meta clara de cortar o metano em 30% até 2030, em conformidade com Compromisso Global de Metan da COP 26, de 2021, mostra uma séria falta de ambição”, diz Jurjen de Waal, do grupo ambientalista Mighty Earth. 

“Se quer ser líder global, a Nestlé precisa estabelecer metas mensuráveis para reduzir suas enormes emissões de metano, incluindo a redução de seu rebanho, melhorando a alimentação do gado e mudando para alternativas mais baseadas em plantas”, finaliza Waal.  

 Os holofotes sobre as promessas Net-Zero da Nestlé vêm à medida que grupos da sociedade civil se unem sob a iniciativa Climate Claims Watch, ou Observatório de Promessas Climáticas, que apoia este relatório da Changing Markets. O observatório vai expor a propaganda verde enganosa de corporações e evidências de ausência de responsabilidade climática. 

 O Climate Claims Watch pede que as legislações governamentais responsabilizem as empresas por meio da imposição de metas de redução de emissões baseadas na ciência (incluindo metas específicas de metano); e cobra ainda relatórios detalhados de grandes empresas, como a Nestlé. Eles pedem que esses relatórios sejam verificados por um terceiro independente.

 

Notas para o Editor: 

 Fotos e vídeos disponíveis aqui.

  • Entrevistas com porta-vozes disponíveis em inglês e francês
    • Contatos:
    • Assessora de imprensa: Rachel Brabbins (gsccnetwork.org)
    • Maddy Haughton-Boakes: (changingmarkets.org) English
    • Sophie NodzenskiP: (changingmarkets.org) English & French
  • O relatório da Changing Markets Integridade Net-Zero: O ponto cego de metano da Nestlé pode ser baixado aqui.
  • O relatório coincide com o lançamento da campanha Climate Claims Watch, destacando a falta de integridade das reivindicações líquidas zero da Nestlé.
  • Duas peças cruciais da legislação da UE – a Diretiva de Reivindicações Ecológicas e a Capacitação dos Consumidores para a transição verde – foram estabelecidas para determinar os tipos de promessas climáticas que as corporações e marcas podem fazer. Muitas organizações da sociedade civil, incluindo Changing Markets, acham que a proposta da UE fica aquém do necessário. Leia mais aqui.
  • Em março de 2023, a Changing Markets publicou ‘Feeding Us Greenwash: An analysis of misleading claims in the food sector” (Uma análise de alegações enganosas no setor alimentício) expondo a desenfreada propaganda enganosa verde da indústria alimentícia, disponível aqui.
  • Em novembro de 2022, a Changing Markets Foundation e o Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP) publicaram ‘Emissions Impossible’ (Emissões impossíveis): Como as emissões de grandes empresas de carne e laticínios estão aquecendo o planeta – Methane Edition”, que calculou as emissões de 15 grandes empresas de carne e laticínios, incluindo a Nestlé. Isto está disponível aqui.

 

ClimaInfo, 20 de abril de 2023.

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