Na Amazônia, mais de 100 botos morrem por causa da seca extrema

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Miguel Monteiro / Instituto Mamirauá

A mortandade de botos e tucuxis se soma ao drama de comunidades sem água e suprimentos para sua sobrevivência, enquanto a estiagem tende a piorar.

A seca extrema em diferentes pontos da Amazônia que já afeta o transporte hidroviário e o abastecimento de água e alimentos a várias cidades da região também afeta a fauna local. O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá constatou a morte de 110 botos e tucuxis no lago Tefé, nas imediações do porto da cidade de Tefé (AM), na região do médio rio Solimões.

A contabilização, explica a Folha, ocorreu num período de uma semana, do sábado retrasado (23/9) até 6ª feira(29/9). Equipes do instituto ainda reuniam carcaças dos animais e informaram que pode haver uma quantidade maior de mortes desses golfinhos de água doce.

A morte em massa em tão curto período chocou os pesquisadores, destaca o UOL. Eles agora investigam qual processo resultou em um nível tão alto de mortes de animais, principalmente da espécie vermelha – os chamados golfinhos de água doce amazônicos. Carcaças estão aparecendo a até 8 km de distância do lago, que fica na confluência dos rios Tefé e Solimões.

O ICMBio anunciou que vai apurar as causas das mortes dos botos. O órgão disse que já mobilizou para a região equipes de veterinários e servidores do seu Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) e da Divisão de Emergência Ambiental, além de instituições parceiras para apurar as causas da mortandade, informa o Estadão.

Além dos botos, a seca severa também está dizimando peixes, como registrado em Manacapuru, no Amazonas. Segundo a Reuters, a mortandade de peixes em vários rios está afetando cerca de 111 mil amazônidas que dependem da proteína para a sua subsistência. E, num círculo vicioso, os animais mortos contaminam a pouca água disponível, piorando o abastecimento.

Na 6ª feira (29/9), o governo do Amazonas decretou situação de emergência, após 55 municípios amazonenses serem afetados pela seca severa. O decreto tem duração de 180 dias e pode ser prorrogado, informa o g1. Além disso, o governador Wilson Lima também instalou um gabinete de crise. Segundo ele, a seca já deixou 2.200 alunos sem acesso à escola, relata o g1.

Com o decreto, a gestão pública pode adotar medidas excepcionais e pedir ajuda ao governo federal. De acordo com o Nexo, as ações incluem a dispensa de licitação de contratos de aquisição de bens como cestas básicas; a flexibilização da licença para abertura de poços artesianos; o amparo a produtores rurais; e a suspensão de cobrança em restaurantes do programa Prato Cheio, do governo amazonense.

Mas, afinal, qual é a causa da seca extrema? Para Rodolfo Salm, ambientalista e professor da UFPA, apenas o El Niño não é suficiente para justificá-la. Logo, a explicação está “sem dúvida nas mudanças climáticas, no aquecimento global”, diz ele à Revista Fórum. No entanto, Salm explica que fenômenos climáticos são multifatoriais. No caso da Amazônia, dois outros fatores influenciam no atual resultado catastrófico: o estado avançado do desmatamento e o El Niño.

Agência Brasil, g1, BBC, CNN, ((o))eco, Um só planeta, Guardian, Brasil de Fato, Metrópoles e DW noticiaram a mortandade de botos e a situação de emergência no Amazonas por causa da seca extrema.

Em tempo: A já grave seca amazônica tende a piorar. A estiagem severa que atinge a região neste ano pode bater recorde e se estender até janeiro, segundo previsão do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN). A situação de diversos rios estratégicos para a região é crítica, com vazões abaixo da média histórica, detalha o g1. Diante disso, o número de municípios afetados pela estiagem deve aumentar até o final do ano, impactando a navegação e o acesso à água, intensificando as queimadas e contribuindo com perdas na produção agrícola familiar.

 

ClimaInfo, 2 de outubro de 2023.

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