Itaú, Bradesco e Santander estão entre os maiores financiadores de energia suja na Amazônia, novo relatório revela

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Os bancos Itaú Unibanco e Bradesco estão entre os principais financiadores de projetos de combustíveis fósseis em toda a Amazônia. O espanhol Banco Santander, com forte atuação no Brasil, também está entre os primeiros da lista, divulgada agora em um novo relatório da Stand. earth em parceria com a Coordenação de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA).

A publicação chega a poucos dias da Cúpula da Amazônia (8-9 agosto), quando os líderes dos países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) vão discutir novos arranjos econômicos para o desenvolvimento sustentável da região.

Itaú, Bradesco e Santander estão entre os maiores financiadores de energia suja na Amazônia, novo relatório revela 


 Oito grandes bancos dos EUA, da Europa e do Brasil são os grandes financiadores isolados de projetos de combustíveis fósseis na Amazônia. A informação é de um estudo divulgado hoje (25), realizado por pesquisadores do Stand. earth Research Group e co-assinado pela Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA).

JPMorgan Chase, Itaú Unibanco, Citibank, HSBC, Banco Santander, Bank of America, Banco Bradesco e Goldman Sachs forneceram mais de US$ 11 bilhões em financiamento para as atividades de petróleo e gás da Amazônia nos últimos 15 anos, de 2009 a 2023, diz o relatório Capitalizando o colapso.

Essas oito instituições financeiras são responsáveis sozinhas por 55% do total estimado de US$ 20 bilhões em projetos de energia suja na região que podem ser diretamente rastreados, embora representem apenas 5% dos bancos identificados em projetos desse tipo.

Dos oito bancos, seis têm sede nos EUA ou atuam por meio de suas subsidiárias americanas e operam em negócios na região, enquanto dois bancos brasileiros – Itaú Unibanco e Banco Bradesco – estão altamente conectados a projetos específicos de petróleo e gás no país. O JPMorgan Chase encabeça a lista com 10% do financiamento direto (US$ 1,9 bilhão).

Figura 1. Os 8 principais bancos representam 55% do financiamento direto estimado nos últimos 15 anos, mas apenas 5% dos bancos no banco de dados. O JPMorgan Chase está no topo da lista de energia suja na Amazônia, com 10% do financiamento direto, ou US$ 1,9 bilhão.

O Relatório explora como a fragilidade das políticas de risco ambiental e social (ESR) dos bancos podem criar condições para que o financiamento flua para a produção de combustíveis fósseis, mesmo quando essas instituições assumem compromissos explícitos com o clima, os direitos humanos e a biodiversidade. A publicação é acompanhada de um banco de dados público pesquisável inédito de todos os bancos envolvidos em projetos de petróleo e gás da Amazônia por meio de financiamento direto e indireto.

Os sucessivos e recentes derramamentos de óleo relacionados ao setor de petróleo e gás poluíram a água e o solo em diferentes regiões da Amazônia, violando os direitos de comunidades indígenas e tradicionais. E à medida que o financiamento criou novas oportunidades de expansão, o setor bombeou emissões de carbono para a atmosfera, alimentando o aquecimento global que ameaça diretamente a sobrevivência da Amazônia. Os cientistas estão alertando que a maior floresta do mundo pode estar atravessando um ponto de inflexão ecológico desastroso.

Enquanto os líderes governamentais se reúnem em Belém, na Cúpula Amazônica, de 8 a 9 de agosto, para discutir como proteger a região, elevar a liderança indígena e proteger os valores ambientais, o relatório Capitalizando o Colapso demonstra que o papel dos bancos na destruição da Amazônia merece maior escrutínio público.

QUOTES

Angeline Robertson, pesquisadora principal do Stand Research Group:

“Esse grupo premiado de pesquisadores destaca que os bancos têm um papel fundamental a desempenhar na mudança da economia energética por trás da crise climática. A Amazônia é uma região fundamental para que os bancos introduzam políticas globais ousadas que possam cumprir a intenção de defender os direitos humanos, proteger a biodiversidade e manter o aquecimento global em 1,5°C. De acordo com a orientação da Agência Internacional de Energia, não deveria haver nenhuma nova produção de petróleo e gás se quisermos ficar abaixo de 1,5ºC, mas continuamos a ver financiamento bancário para a expansão de petróleo e gás na maior floresta tropical do mundo.”


 Fany Kuiru, Coordenadora Geral da Coordenadora de Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA):

“A expansão do petróleo na Amazônia é uma ameaça latente aos territórios indígenas e ecossistemas vitais no Peru, Equador, Brasil e Colômbia, mas também coloca em risco dezenas de povos indígenas não contatados, cuja existência depende da intangibilidade de seus territórios. A degradação e o desmatamento combinados nos confrontam com um iminente ponto de não retorno que, para nossos povos, se traduz em doenças crônicas como consequência da contaminação, a perda de nossa soberania alimentar devido a metais pesados encontrados em peixes e na água que bebemos e a violência sistemática contra aqueles que defendem nosso lar. Os bancos, as empresas financeiras e outras empresas que investem na região e cujos lucros são derivados da exploração de petróleo são cúmplices da morte de nossos líderes, de nossas culturas e de nossos modos de vida. Pedimos que os maiores investidores bancários deixem a Amazônia imediatamente.”


 Todd Paglia, Stand. earth:

“‘Capitalizing on Collapse’ mostra claramente que os bancos devem parar de financiar petróleo e gás na Amazônia. A plataforma Exit Amazon Oil and Gas (Sair do Petróleo e Gás da Amazônia), uma das tábuas da iniciativa Amazônia para a Vida: 80 X 2025, é um caminho claro para os bancos enviarem o sinal de que querem investir no futuro da Amazônia, não em seu colapso. Ao implementar uma exclusão em toda a Amazônia para investimentos problemáticos em petróleo e gás, saindo de negócios e relacionamentos que causam destruição e investindo em desenvolvimento econômico ecológico e apoiado pelos indígenas na região, bancos como JPMorgan Chase, Itaú Unibanco e Citi podem estar do lado certo da história.”


 April Merleaux, Gerente de Pesquisa, Equipe de Clima e Energia, Rainforest Action Network:

“Capitalizing on Collapse” destaca uma importante pesquisa sobre o financiamento bancário que flui para a extração de petróleo e gás no bioma amazônico. O caminho mais seguro para manter as temperaturas globais abaixo de 1,5˚C é promulgar os princípios do FPIC – o Consentimento Livre, Prévio e Informado para os Povos Indígenas. A proteção dos direitos humanos e a manutenção dos combustíveis fósseis no solo nos afastarão do caos climático. Mas esse relatório mostra que os bancos – inclusive os grandes bancos dos EUA, como o Bank of America e o JPMorgan Chase – estão indo na direção oposta, financiando a destruição nessa região crucial. O relatório lança dúvidas sobre as promessas de net zero dos bancos.”


 Notas para o editor:

Relatório completo aqui .

Contatos para entrevistas

Matt Krogh Stand Earth)(

Alicia Guzman, Codiretora do Programa Amazônia da Stand Earth, Quito, Equador.

Martyna Dominiak, Campaigner Sênior de Finanças do Programa Amazônia da Stand Earth, Barcelona, Espanha.

COICA: Brayn Ludeña.

 

ClimaInfo, 25 de julho de 2023.

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