Petrobras deveria pagar U$ 3,9 bi em prejuízos climáticos ao ano entre 2025-2050; conta de 21 petroleiras é de US$ 209 bi, estima estudo

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Enquanto líderes políticos brasileiros ainda defendem novos investimentos em extração de combustíveis fósseis para “financiar a transição energética”, um novo estudo coloca números claros para o prejuízo climático causado pelas petroleiras. 

Nessa conta, a Petrobras teria que pagar quase US$ 100 bilhões em reparações cumulativamente entre 2025 e 2050 – uma taxa de prejuízo climático estimada em cerca de US$ 3,9 bilhões ao ano

Em conjunto, as 21 maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo vão gerar US$ 5,4 trilhões em prejuízos causados pela mudança climática entre 2025 e 2050; US$ 209 bilhões ao ano até a metade do século.

A lista de petroleiras que mais teriam a pagar é liderada pela Saudi Aramco – US$ 1,1 trilhão entre 2025-2050; pouco mais de US$ 42 bilhões ao ano. A empresa é presidida pelo presidente da COP28, Sultan Al Jaber, que está sob pressão para deixar o posto por seu papel na indústria fóssil. 

O estudo defende que as empresas de combustíveis fósseis – as maiores causadoras da mudança climática – paguem indenização às vítimas da crise. A análise chega após as petroleiras terem registrado os maiores lucros da história. Ao mesmo tempo, cresce a pressão política para o pagamento por perdas e danos nos países mais vulneráveis. 

A pesquisa foi publicada na sexta-feira (19) neste link. Mais detalhes no release abaixo, com ilustrações e tabelas. 

Petrobras deveria pagar U$ 3,9 bi em prejuízos climáticos ao ano entre 2025-2050; conta de 21 petroleiras é de US$ 209 bi, estima estudo

Um novo estudo defende que os maiores responsáveis pela emergência climática indenizem as vítimas. E, pela primeira vez, coloca um preço nos danos climáticos devidos pelas 21 principais petroleiras do mundo, inclusive a Petrobras, além de Saudi Aramco, ExxonMobil, Shell, BP, Chevron e outras

A questão de “quem deve pagar pelos danos climáticos” é cada vez mais levantada na literatura científica, nos movimentos climáticos e na diplomacia, especialmente em relação ao mecanismo de perdas e danos. O novo trabalho propõe a responsabilidade dos produtores de petróleo, gás e carvão de pagar reparações, apresenta uma abordagem metodológica para sua implementação e, de forma inédita, quantifica os pagamentos anuais para as principais empresas de combustíveis fósseis de 2025 a 2050

E como incentivo para antecipar medidas climáticas nessas empresas, os autores propõem que elas possam se qualificar para reduzir os pagamentos de indenização se renunciarem a novos projetos e pararem rapidamente de produzir combustíveis poluentes, além de cumprirem suas metas líquidas zero de forma transparente e verificável

O artigo é dos pesquisadores Marco Grasso, da Universidade de Milão-Bicocca, e Richard Heede, do Climate Accountability Institute, do Colorado, nos EUA. A análise foi publicada na revista revisada por pares One Earth, sob o título Time to pay the piper

Segundo o estudo, as 21 maiores petroleiras do mundo são coletivamente responsáveis por 5,4 trilhões de dólares em custos econômicos causados pelas mudanças climáticas estimados entre 2025 e 2050. Isto é 209 bilhões de dólares por ano, em média, de acordo com a análise

O estudo quantifica os pagamentos anuais devidos pelas petroleiras com base no Carbon Majors Database, que registra dados sobre as emissões dos maiores poluidores de carbono. O valor de reparação estimado para os anos de 2025 a 2050 foi calculado com base nas emissões operacionais e de produtos entre os anos de 1988 a 2022

“A estrutura proposta para quantificar e atribuir reparações aos principais produtores de combustível de carbono está fundamentada na teoria moral e fornece um ponto de partida para a discussão sobre o dever financeiro devido pelo setor de combustíveis fósseis às vítimas do clima”, disse Grasso, autor principal da pesquisa, que espera que esse trabalho “informe futuros esforços para direcionar os pagamentos das empresas de combustíveis fósseis às partes prejudicadas”

“Essa é apenas a ponta do iceberg dos danos climáticos de longo prazo, da mitigação e dos custos de adaptação”, disse o coautor Richard Heede, cofundador e diretor do Climate Accountability Institute, “na medida em que nossa medida de perda do PIB até 2050, embora substancial, ignora o valor da perda de serviços ecossistêmicos, extinções, perda de vidas humanas e meios de subsistência e outros componentes do bem-estar não capturados no PIB”.

Como os autores chegaram a essas cifras

A nova pesquisa usa como base um estudo de 2021 que teve grande repercussão no meio acadêmico e político ao reunir 738 economistas especializados em temas climáticos. Eles concluíram que os danos econômicos globais esperados em decorrência das mudanças climáticas é estimado em 99 trilhões de dólares entre 2025 e 2050.

Após a contabilização das fontes de aquecimento que não são combustíveis fósseis, como por exemplo, o desmatamento, os danos econômicos futuros decorrentes das emissões somente de combustíveis fósseis foram estimados em US$ 69,6 trilhões para 2025-2050. O novo estudo então atribui, de forma conservadora, ao menos um terço desses custos climáticos ao setor global de combustíveis fósseis, deixando um terço aos governos e um terço aos consumidores

Assim, o setor global de combustíveis fósseis seria responsável por US$ 23,2 trilhões em perdas esperadas do PIB global devido aos impactos da mudança climática entre os anos de 2025 e 2050, ou US$ 893 bilhões por ano

Para calcular as responsabilidades de cada empresa individualmente, os autores se referiram às suas emissões desde 1988, ano em que o IPCC foi criado, Eles argumentam que “desde 1988, as alegações de incerteza científica sobre as consequências das emissões de carbono são insustentáveis”. Cerca de metade do aquecimento registrado até agora ocorreu a partir dessa data, e os impactos da mudança climática nas próximas décadas serão, em grande parte, causados pelas emissões produzidas desde o final da década de 1980

Com base em sua parcela de emissões entre 1988 e 2022, as 21 maiores empresas de petróleo, gás e carvão são, portanto, responsáveis por US$ 5.444 bilhões em PIB global perdido esperado entre 2025 e 2050, ou US$ 209 bilhões por ano

A Saudi Aramco, que tem as maiores emissões entre 1988 e 2022 de fontes diretas e relacionadas a produtos, tem responsabilidades anuais atribuídas de US$ 43 bilhões – um valor substancial, mas baixo em comparação com suas receitas de US$ 604 bilhões e lucro de US$ 161 bilhões em 2022

À Exxon são atribuídos pagamentos anuais de reparação de US$ 18 bilhões – em comparação com receitas de US$ 399 bilhões e lucro de US$ 56 bilhões em 2022.

Os autores isentam quatro empresas em países de baixa renda e reduzem pela metade a responsabilidade calculada para empresas em seis países de renda média, incluindo a Petrobras. Isso significa que a indenização devida pela gigante brasileira foi minorada nesta análise em função da condição de economia de renda média do Brasil.

Como os autores chegaram a essas cifras

A nova pesquisa usa como base um estudo de 2021 que teve grande repercussão no meio acadêmico e político ao reunir 738 economistas especializados em temas climáticos. Eles concluíram que os danos econômicos globais esperados em decorrência das mudanças climáticas é estimado em 99 trilhões de dólares entre 2025 e 2050.

Após a contabilização das fontes de aquecimento que não são combustíveis fósseis, como por exemplo, o desmatamento, os danos econômicos futuros decorrentes das emissões somente de combustíveis fósseis foram estimados em US$ 69,6 trilhões para 2025-2050. O novo estudo então atribui, de forma conservadora, ao menos um terço desses custos climáticos ao setor global de combustíveis fósseis, deixando um terço aos governos e um terço aos consumidores.

Assim, o setor global de combustíveis fósseis seria responsável por US$ 23,2 trilhões em perdas esperadas do PIB global devido aos impactos da mudança climática entre os anos de 2025 e 2050, ou US$ 893 bilhões por ano.

Para calcular as responsabilidades de cada empresa individualmente, os autores se referiram às suas emissões desde 1988, ano em que o IPCC foi criado, Eles argumentam que “desde 1988, as alegações de incerteza científica sobre as consequências das emissões de carbono são insustentáveis”. Cerca de metade do aquecimento registrado até agora ocorreu a partir dessa data, e os impactos da mudança climática nas próximas décadas serão, em grande parte, causados pelas emissões produzidas desde o final da década de 1980. 

Com base em sua parcela de emissões entre 1988 e 2022, as 21 maiores empresas de petróleo, gás e carvão são, portanto, responsáveis por US$ 5.444 bilhões em PIB global perdido esperado entre 2025 e 2050, ou US$ 209 bilhões por ano. 

A Saudi Aramco, que tem as maiores emissões entre 1988 e 2022 de fontes diretas e relacionadas a produtos, tem responsabilidades anuais atribuídas de US$ 43 bilhões – um valor substancial, mas baixo em comparação com suas receitas de US$ 604 bilhões e lucro de US$ 161 bilhões em 2022. 

À Exxon são atribuídos pagamentos anuais de reparação de US$ 18 bilhões – em comparação com receitas de US$ 399 bilhões e lucro de US$ 56 bilhões em 2022. 

Os autores isentam quatro empresas em países de baixa renda e reduzem pela metade a responsabilidade calculada para empresas em seis países de renda média, incluindo a Petrobras. Isso significa que a indenização devida pela gigante brasileira foi minorada nesta análise em função da condição de economia de renda média do Brasil.

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ClimaInfo, 23 de maio de 2023.

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