A história se repete, desta vez no Reino Unido. O direitista Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, apresentou sua nova política para o clima, e ela é baseada em negacionismo da mudança climática, desinformação e isolamento internacional – o chefe de Estado inclusive faltou à Assembleia-Geral da ONU sem se preocupar com justificativas.
Abaixo está um release com mais detalhes e reações da sociedade civil.
A lei eleitoral britânica estabelece que as próximas eleições gerais devem ocorrer antes de janeiro de 2025, mas uma pesquisa de opinião divulgada esta semana mostrou que 6 entre 10 eleitores querem o pleito ainda na primeira metade de 2024, e quase 90% dos respondentes desejam mudança na liderança do país.
Reino Unido aprofunda isolamento com retrocessos climáticos
O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, do Partido Conservador, de direita, anunciou retrocessos em políticas de combate às mudanças climáticas. Sua fala teve grande repercussão no mundo político, diplomático e na sociedade civil, no momento em que outros líderes mundiais voltam da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, com compromissos renovados de ação contra a mudança do clima. Sunak nem mesmo foi à Assembleia.
As posições assumidas por Sunak já causam brigas internas no governo e em seu partido. O mundo empresarial reagiu negativamente, e a recepção no exterior aponta para um aprofundamento do isolamento diplomático do país iniciado com o Brexit (saída da União Europeia). Uma análise do Carbon Brief verifica se o que foi anunciado coloca em risco as metas legalmente obrigatórias do país.
Em seu discurso, ele anunciou que:
- A data de eliminação gradual dos novos carros a gasolina e diesel foi adiada de 2030 para 2035;
- Os planos que obrigariam os proprietários de imóveis a melhorar a eficiência energética de suas casas também foram descartados;
- Ele mudará a forma como os orçamentos de carbono do Reino Unido (metas de longo prazo a cada 4 anos) são definidos
As mudanças são más notícias, dizem os consultores independentes do governo do Reino Unido ao Comitê de Mudanças Climáticas. “O anúncio de hoje provavelmente deixará o Reino Unido ainda mais longe de conseguir cumprir seus compromissos legais. Isso, somado ao recente leilão malsucedido de energia eólica offshore, nos preocupa”, disse o comitê em um comunicado.
Sunak surpreendeu ao sugerir também a eliminação de uma série de políticas que nunca existiram: separação de lixo em sete lixeiras de reciclagem diferentes; compartilhamento obrigatório de carros; impostos sobre o consumo de carne.
“Os passos do Reino Unido serão observados de perto, pois o país é um dos principais membros da OCDE e um dos principais beneficiários do crescimento intensivo de emissões. O país tem a responsabilidade moral de assumir a liderança e não desacelerar o ritmo da transição”, disse R. R. Rashmi, funcionário aposentado do Serviço administrativo Indiano e membro honorário do Instituto de Energia e Recursos (The Energy and Resources Institute).
“Acho que é justo dizer que as comunidades internacionais de negócios e segurança aqui em Nova York estão perplexas”, relatou Ruth Davis, ex-assessora da equipe da COP26, realizada em Glasgow, no Reino Unido, em 2021.
“Rishi Sunak alienou de uma só vez seus aliados estratégicos, expôs seus cidadãos a custos mais altos devido à dependência contínua do gás e sinalizou que o Reino Unido não é um lugar confiável para investir em tecnologias limpas”, avalia Davis.
Para Nick Mabey, CEO do think thank E3G, com sede em Londres, as medidas de Sunak vão agravar a crise inflacionária. “O discurso de Sunak, que reverteu políticas climáticas vitais, afetará as famílias com contas de energia mais altas e prejudicará as empresas do Reino Unido que competem nos mercados verdes. Os formuladores de políticas em Bruxelas, Washington e Pequim observam com espanto – e um pouco de alegria – esse novo exemplo de autoflagelação econômica do Reino Unido”.
“O primeiro-ministro do Reino Unido já estava parecendo desesperado e fraco, mas ao tentar reverter as políticas climáticas do último manifesto de seu governo, ele agora parece cruel e estúpido”, disparou o ativista Mohamed Adow, diretor da Power Shift Africa. “Rishi Sunak é agora um vândalo do clima com visão retrógrada e uma ameaça para muitos de nós no sul global.”
Para Mike Williams, pesquisador sênior de Energia e Meio Ambiente do Centro para o Progresso Americano (Center for American Progress), as ações do primeiro-ministro britânico criam confusão e incerteza entre as empresas e colocam empregos em risco.
“Com esse anúncio, o PM Sunak está dando continuidade ao processo iniciado com o Brexit para que o Reino Unido se retire da liderança global. Enquanto outras nações estão lutando pelo futuro de seu país e por um mundo melhor, Sunak está basicamente dizendo: ‘Para o inferno com isso’, diz Williams.
“Imagine se a liderança do Reino Unido decidisse que apoiaria os trabalhadores e competiria por empregos e setores do futuro, ao mesmo tempo em que ajudaria a combater a crise climática global. Infelizmente, essa seria apenas a nossa imaginação sob este governo atual”, conclui o pesquisador.
Notas para o Editor:
O discurso completo de Rishi Sunak pode ser assistido aqui.
ClimaInfo, 21 de setembro de 2023.
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