Siderurgia pode alcançar emissões zero já em 2040, diz estudo

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Foi lançado na quinta-feira (15/6) um relatório que afirma que a descarbonização da produção global de aço e ferro é possível até o início da década de 2040. E o hidrogênio verde é um elemento importante para viabilizar este processo.

Esta é uma descoberta surpreendente, já que a siderurgia é tradicionalmente retratada como um setor de muito difícil descarbonização. 

O Brasil é o segundo maior exportador de minério de ferro, atrás da Austrália. Aos exportadores, sobretudo aqueles com grande capacidade em energia renovável (caso do Brasil), o relatório recomenda exportar “hidrogênio incorporado” na forma de aço e ferro verdes.

 Leia aqui o release oficial, o relatório e um texto do ClimaInfo sobre o relatório abaixo. 

Siderurgia pode alcançar emissões zero já em 2040, diz estudo

O think tank de energia alemão Agora divulga nesta quinta-feira (15) um relatório que afirma que um setor siderúrgico com emissões líquidas zero até o início da década de 2040 já é tecnicamente viável. As estratégias para este resultado seriam a eficiência no uso dos materiais, o aumento da reciclagem, a produção de aço com base em hidrogênio verde, além da bioenergia e de algumas abordagens de captura e armazenamento de carbono.

 A análise é uma das primeiras a traçar um cenário viável em que o ferro e o aço deixam de ser um setor difícil de descarbonizar, o que favorece a ambição climática global. 

 “Nosso estudo mostra que é hora de remover o rótulo ‘difícil de abater’ do setor siderúrgico”, disse Frank Peter, diretor da Agora. “As tecnologias e estratégias necessárias para atingir o zero líquido já existem – agora os governos e as empresas precisam combinar seus esforços para implantá-las rapidamente.”

 O relatório destaca que o Brasil (22%) é o segundo maior exportador de minério de ferro, atrás da Austrália (53%) e bem à frente dos últimos três fornecedores internacionais relevantes: África do Sul (4%); Canadá (3%) e Ucrânia (3%). O Brasil se destaca como aquele com maior capacidade de produção de hidrogênio verde, já que a obtenção ‘limpa’ desta gás depende da disponibilidade de energia renovável, um ativo que tem se fortalecido no país com o crescimento solar e eólico. 

 A recomendação do relatório é que em vez de tentar exportar hidrogênio verde, países exportadores de ferro como o Brasil deveriam se preparar para investir em “hidrogênio incorporado” na forma de ferro e aço verdes. 

 “As exportações de ferro verde proporcionarão novas oportunidades aos países que planejam exportar hidrogênio renovável ou de baixo carbono, criando mais empregos no mercado interno e permitindo que os países capturem uma parte adicional de valor agregado da cadeia de valor da siderurgia”, explica o relatório. “Em comparação com o cenário em que esses países exportariam minério de ferro e hidrogênio e seus derivados por navio, a exportação de ferro verde poderia permitir um ganho de cerca de 16% em empregos empregos locais e um aumento de 18% no valor agregado.”

 O relatório afirma também que o comércio de ferro verde pode reduzir os custos da transformação global do aço, sendo vantajoso tanto para exportadores, como importadores. Isso porque o transporte de hidrogênio incorporado como ferro verde será significativamente mais barato do que o transporte de hidrogênio e seus derivados por navio. E para os importadores, o ferro verde pode aumentar a competitividade da produção de aço com baixo teor de carbono, ajudando assim a manter os empregos locais no setor siderúrgico. 

 Para impulsionar este cenário, os analistas da Agora recomendam a construção de parcerias entre exportadores e importadores. A Austrália, líder do mercado de ferro, saiu na frente também ao estabelecer em 2021 uma cooperação internacional em aço verde com a Coreia do Sul, seu terceiro maior cliente. 

 “A década de 2020 é uma grande encruzilhada para o setor siderúrgico global. As decisões corretas sobre políticas e investimentos hoje evitarão o aprisionamento de alto teor de carbono e ativos irrecuperáveis e nos colocarão no caminho de investimentos compatíveis com zero líquido que podem garantir o futuro do setor e de seus empregos”, projeta Peter. 

 O relatório destaca também as abordagens que não terão êxito nesta corrida tecnológica, como a captura e o armazenamento de carbono (CCS) combinado à energia do carvão, que “não desempenhará um papel importante na transformação global do aço”, diz o texto. Segundo o estudo, “as novas usinas siderúrgicas baseadas em carvão enfrentarão um alto risco de aprisionamento de carbono e de ativos irrecuperáveis.”

 

 

ClimaInfo, 14 de junho de 2023.

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