Kerry: guerras não podem distrair o mundo da urgência da crise climática

John Kerry negacionismo climático
Ralph Alswang / Center for American Progress Action Fund Flickr

O enviado especial dos EUA para o clima defende que países mantenham foco no enfrentamento à crise climática mesmo com conflitos e tensões geopolíticas.

O contexto geopolítico global não poderia ser pior: com o mundo ainda se recuperando dos efeitos da pandemia, conflitos de grande repercussão estão se proliferando e tensionando ainda mais as relações entre os países. No entanto, o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, defendeu que os governos precisam manter seu foco no enfrentamento à mudança climática. 

“Enquanto as crises na Ucrânia e no Oriente Médio estão acontecendo agora, com as pessoas morrendo e o potencial de grandes conflitos, a realidade continua sendo que o clima está tirando vidas no mundo todo, todos os dias”, disse Kerry nesta 4ª feira (18/10) durante participação virtual em um evento do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

A fala de Kerry, citada pela Folha, acontece em um momento de incerteza sobre o futuro das negociações climáticas. Faltando pouco mais de um mês para a abertura da Conferência do Clima de Dubai (COP28), nos Emirados Árabes, a pauta de negociação está repleta de espinhos e os conflitos e tensões geopolíticas dificultam ainda mais as chances de sucesso do encontro.

Mesmo com o argumento do ex-secretário de estado norte-americano, será difícil a COP28 escapar dos efeitos da guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza. “[A guerra vai] reduzir ainda mais a prioridade do tema ambiental e tornar mais difícil do que já era se chegar a um consenso mínimo para se avançar nas negociações”, avaliou à Folha o ex-ministro Rubens Ricupero. 

A avaliação do secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, é parecida. “A COP é um espaço que precisa ter acordos e boa vontade para avançar. Com duas guerras acontecendo, fica bem mais difícil coordenar esse desejo coletivo”, afirmou.

Os dilemas políticos criados pelas guerras intensificam as ambiguidades das grandes economias com relação à transição energética e o financiamento para ação climática nos países pobres. No Valor, Daniela Chiaretti abordou a improbabilidade cada vez mais evidente dos países definirem em Dubai um caminho para se afastar dos combustíveis fósseis, ação crucial para manter vivo o objetivo de limitar o aquecimento global em 1,5oC neste século.

Em tempo: Enquanto isso, o presidente-designado da COP28, Sultan al-Jaber, enviou ontem uma nova carta aos líderes políticos e observadores das negociações climáticas com o plano de ação para as conversas em Dubai. O documento apresenta a agenda de negociação conforme definida pela Presidência da COP e reitera o interesse dos Emirados Árabes em realizar uma Conferência “transformadora” em prol da ação climática global. A Axios fez um raio-x abrangente da proposta apresentada por al-Jaber.

 

ClimaInfo, 19 de outubro de 2023.

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