Seca se intensifica e rio Negro registra novo recorde negativo de nível da água

rio Negro seca
Roldolfo Pongelupe e Lucas Bonny/FAS - 18.out.2023. - via Poder360

Para piorar, não há expectativa de chuvas no curto prazo e as mudanças climáticas fazem qualquer previsão ser um tiro no escuro, diz Paulo Artaxo.

A estiagem extrema que atinge a Amazônia desde setembro continua secando os grandes rios da região, e não há expectativas de mudança no curto prazo. Nenhuma precipitação é esperada de imediato na Região Norte, apesar da estação chuvosa começar a dar seus primeiros sinais no início de outubro, explicou Paulo Artaxo, professor e pesquisador de física atmosférica da USP.

Segundo Artaxo, as mudanças climáticas deixaram os modelos meteorológicos imprecisos e desatualizados, destaca a Bloomberg Línea. Assim, qualquer projeção de quando começa de fato a estação chuvosa é um tiro no escuro, acrescentou. “O clima já mudou. A maioria dos países não está preparada para lidar com o aumento dos eventos climáticos extremos”, completou.

Doutora em ecologia e professora da Universidade Federal Rural do Pará, Vania Neu aponta que o desmatamento e as queimadas contribuem para aumentar a frequência de chuvas ou secas extremas no país, relatam Agência Brasil e Poder 360. Segundo Neu, essas interferências podem inviabilizar o modo de vida de populações em várias regiões, inclusive na Amazônia.

Enquanto isso, a seca vai piorando. O rio Negro, um dos maiores da bacia amazônica, bateu sucessivamente recordes de baixa na semana passada, com sua cota abaixo da mínima histórica vista há mais de 120 anos. Medições do Porto de Manaus mostraram que a cota do rio, na 2af (16/10) estava com 13,6 metros – o nível mais baixo dos registros históricos na cidade desde 1902. Dois dias depois, na 4ª feira (18/10), a cota baixou para 13,4 m, relata o Poder S360. E continuou baixando para, no sábado (21/10), chegar a 13,2 metros, informou a Agência Brasil.

Outro grande curso d’água que baixa a cada dia é o Amazonas. O rio atingiu a maior cota (negativa) já registrada em Parintins na 6ª feira (20/10). Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), é a pior estiagem da cidade em 49 anos de medição. De acordo com o SGB, o Amazonas amanheceu a 1,90 metros abaixo do nível normal, 4 cm abaixo do recorde anterior, de 2010, quando o nível do rio chegado a 1,86 metros negativos, explica o g1.

No Lago Tefé, formado pelo rio Solimões, a água bateu novo recorde de temperatura. E mais um boto foi encontrado morto, após 10 dias sem registro de óbito desses animais no local, segundo a Folha. Desde 23 de setembro, 154 botos morreram no lago, afetados pela redução da água e pelo calor.

Com o transporte hidroviário afetado pela estiagem, empresas da Zona Franca de Manaus (ZFM) já enfrentam falta de matéria prima e estudam antecipar férias coletivas. Há estoques para abastecer o país na Black Friday, mas há incerteza para o Natal, avalia Marcello Di Gregorio, diretor do Super Terminais, terminal portuário privado que opera na capital do Amazonas, destaca a Folha.

Outra preocupação é com o abastecimento de combustíveis, que chegam a muitas localidades da região por navios. O diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, disse na 5ª feira (19/10) que a agência não havia registrado desabastecimento, apesar das dificuldades cada vez maiores para o transporte de carga pelos rios, segundo a Folha. Mas São Gabriel da Cachoeira já sofre racionamento de energia elétrica porque o navio que transportava combustível para a termelétrica que atende a cidade encalhou e não chegou a seu destino, destaca o Jornal Nacional.

Também na 5ª feira, o presidente Lula conversou com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, por telefone, sobre a seca extrema na Amazônia. Petro propôs uma reunião de Colômbia e Brasil com Equador e Venezuela para formular um plano comum para enfrentar a estiagem. A data ainda será definida, de acordo com o Um só planeta.

BBC, Um só planeta, Financial Times, Folha e Agência Brasil repercutiram a seca extrema na Amazônia e seus efeitos.

 

ClimaInfo, 23 de outubro de 2023.

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