Planos projetam 460% mais carvão, 83% mais gás e 29% mais petróleo do que o possível queimar para se manter aumento de temperatura de 1.5ºC.
Os países produtores de combustíveis fósseis estão planejando expansões nos volumes extraídos que, se efetivados, vão estourar duas vezes o orçamento de carbono do planeta, conclui a 4ª edição do relatório “Production Gap”, da ONU, lançada nesta 4ª feira (8/11). Os autores do relatório chamam planos de insanos.
Estes planos claramente contradizem as políticas e compromissos climáticos dos países produtores, afirma o documento. Os projetos levariam a 460% mais produção de carvão, 83% mais gás fóssil e 29% mais petróleo em 2030 do que seria possível queimar para limitar o aumento da temperatura global em 1,5oC, como estabelecido no Acordo de Paris. Na média, seriam cerca de 110% mais combustíveis fósseis do que seria consistente para este limite.
Tais planos também gerariam 69% mais combustíveis fósseis do que seria compatível com a meta arriscada de 2oC, detalha o Guardian.
A disparidade entre a produção planejada e os objetivos climáticos é um aviso de que o phase-out dos combustíveis fósseis continua fora do horizonte, destaca o documento. Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), disse, em comunicado que acompanha o estudo, que “os planos dos governos para expandir a produção de combustíveis fósseis estão minando a transição energética necessária para alcançar emissões líquidas zero, colocando em xeque o futuro da humanidade”, destaca o Inside Climate News.
O Production Gap analisou os 20 principais produtores de combustíveis fósseis e verificou que nenhum deles se comprometeu a reduzir a produção de carvão, petróleo e gás fóssil em linha com a limitação do aquecimento a 1,5°C. É fato que 17 desses países se comprometeram a atingir emissões líquidas zero, mas a maioria, reforça a Reuters, continua a promover, subsidiar, apoiar e planejar a expansão da produção de combustíveis fósseis.
Os países responsáveis pelas maiores emissões de carbono provenientes da produção planejada de combustíveis fósseis são Índia (carvão), Arábia Saudita (petróleo) e Rússia (carvão, petróleo e gás). Os EUA e o Canadá também pretendem ser grandes produtores de petróleo, tal como os Emirados Árabes Unidos – que daqui a alguns dias será o anfitrião da COP28, em Dubai.
Um dos destaques do documento é a intenção do governo brasileiro de impulsionar o país ao posto de quarto maior produtor de petróleo do mundo e de insistir na exploração de petróleo “até a última gota”, destaca o Observatório do Clima. Uma contradição com a colocação da agenda climática no centro de sua agenda internacional do país, diz o relatório.
Empresas estatais controlam cerca de metade da produção mundial de petróleo e gás fóssil e mais da metade da extração de carvão. Mas mesmo em países como os Estados Unidos, onde o setor privado domina, políticas governamentais como subsídios aos combustíveis fósseis e reduções fiscais continuam a impulsionar a produção, lembra o New York Times.
“Apesar de suas promessas climáticas, os governos planejam investir ainda mais dinheiro numa indústria suja e moribunda, enquanto as oportunidades abundam no florescente setor de energia limpa. Além da insanidade econômica, é um desastre climático”, frisou Neil Grant, analista da Climate Analytics e um dos autores do relatório.
A nova edição do Production Gap Report foi repercutido também por AP, France24, Le Monde, Sky News, Business Green, Observador, Público e Axios, entre outros.
ClimaInfo, 9 de novembro de 2023.
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