Dor no bolso: os efeitos da crise climática sobre variados setores econômicos

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Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Tragédia no show de Taylor Swift no Rio de Janeiro mostra que setor cultural é mais um a ter de se adaptar à mudança climática.

A onda de calor na semana passada, que pode ter causado a morte da jovem Ana Clara Benevides no primeiro show de Taylor Swift no Rio de Janeiro, e que provocou o adiamento da segunda apresentação da cantora na cidade, não foi o primeiro evento climático extremo que obrigou produtores culturais a mudarem eventos. Entretanto, o episódio trágico confirmou a “entrada” do setor de cultura e entretenimento no grupo de segmentos econômicos cada vez mais atingidos diretamente e com prejuízos financeiros por causa da mudança do clima.

No mesmo fim de semana do show de Taylor no Rio, uma apresentação de Marisa Monte foi adiada após fortes chuvas derrubarem o palco em que ela cantaria em Niterói, no Grande Rio, e 55 eventos a céu aberto em São Paulo foram cancelados pela previsão de temporais e vendavais. Eventos extremos já tinham sido registrados em outros shows nacionais, como Doce Maravilha, Tomorrowland e Rep Festival. Nos Estados Unidos, a edição de 2023 do Burning Man, que ocorre em região árida, foi prejudicada por chuvas inesperadas e torrenciais em pleno deserto, detalha O Globo.

Diante do “novo anormal”, o Procon de São Paulo vai instaurar uma comissão especial para debater os impactos das mudanças climáticas na relação de consumo e como o consumidor pode ser protegido, informa o Valor. “Vamos discutir os eventos climáticos de forma científica, mas vemos que esse tema é recorrente e vai provocar mudanças. Precisamos de adaptação do mercado, já que cada vez mais esses eventos não podem ser considerados extraordinários, tanto nos seguros como nas medidas de prevenção”, explicou Luiz Orsatti Filho, diretor-executivo do Procon-SP.

Mencionando também os impactos nos setores de energia e agropecuária, Giovana Girardi, da Agência Pública, ressalta que a crise climática está se tornando uma crise econômica. Entre os exemplos, vale lembrar que o calor extremo da última semana fez o país bater recorde no consumo de eletricidade e obrigou o governo a ligar termelétricas movidas a combustíveis fósseis – mais caras e mais poluentes.

“Não é de hoje que se alerta que a emergência climática, mais do que um problema ambiental, vai ser (já está sendo, na real) um baita problema econômico. Só para ficar em um exemplo mais recente, o Banco Mundial divulgou um relatório em maio calculando que eventos extremos como secas, tempestades e inundações em cidades já estão causando perdas no Brasil de cerca de R$ 13 bilhões por ano. A estimativa é que entre 800 mil e 3 milhões de brasileiros podem ser empurrados para a extrema pobreza até 2030 em decorrência dos impactos desses eventos.”

Em tempo: Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que quase todos os brasileiros percebem as mudanças climáticas e acreditam que as ações humanas são responsáveis por elas. No entanto, segundo o mesmo levantamento, nem todos entendem a gravidade da crise climática, destaca o Jornal da Globo. Segundo a pesquisa, 94% das pessoas sabem que estamos passando por uma mudança climática e 91% entendem que o fenômeno é causado principalmente pela atividade humana. Em contrapartida, apenas 56% acreditam que isso seja grave. Um dado interessante é que, ao contrário dos Estados Unidos e da Europa, onde o posicionamento político e o grau de escolaridade determinam se a pessoa acredita na mudança do clima e na gravidade dela, no Brasil é o grau de individualismo. “Cidadãos mais individualistas que acreditam que não tem solução coletiva para os seus problemas, que têm de lidar com eles sozinhos, que não acreditam que as instituições políticas, por exemplo, vão trazer uma solução para os problemas, tendem a acreditar menos que a mudança do clima é um problema grave”, explicou o professor titular da Escola de Relações Internacionais da FGV Matias Spektor.

 

ClimaInfo, 23 de novembro de 2023.

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