Acordo para triplicar energias renováveis não inclui fim dos combustíveis fósseis

COP28 Al-Jaber no phase out fossil
Anadolu/Getty Images via The Guardian

Como acreditar num acordo para fontes limpas enquanto Al-Jaber afirma que “não há ciência” na necessidade de eliminar os combustíveis fósseis para os 1,5°C?

O presidente da COP28, Sultan Al-Jaber, anunciou no sábado (2/12) um conjunto de promessas para investimentos em energia renovável. O principal compromisso, apoiado por 116 países – inclusive o Brasil –, é triplicar a capacidade instalada de energias renováveis no mundo até 2030, alcançando cerca de 11 mil gigawatts. Além disso, os países prometem dobrar a eficiência energética no mesmo período, com melhorias de 2% a 4% ao ano.

As duas metas correspondem a recomendações da Agência Internacional de Energia para que o mundo mantenha o aquecimento global médio próximo de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. No entanto, um pilar fundamental ficou de fora: a eliminação de novos investimentos em combustíveis fósseis.

Não bastasse essa ausência do phase out dos fósseis, Al-Jaber ainda foi capaz de declarar que “não há ciência” indicando que é necessária uma eliminação progressiva dos combustíveis fósseis para restringir o aquecimento a 1,5°C. Ele, que também preside a petroleira estatal ADNOC, disse ainda que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis não permitiria o desenvolvimento sustentável “a menos que se queira levar o mundo de volta às cavernas”, destaca o Guardian.

Pouco depois da estapafúrdia declaração do presidente da COP28, cientistas lançaram o relatório “10 New Insights in Climate Science 2023/2024”. Nele, enfatizam o óbvio: a necessidade da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis para se manter o aquecimento global dentro da meta do Acordo de Paris.

O comprometimento dos países com a eliminação de petróleo, gás e carvão, porém, ficou no vácuo nas falas de líderes globais no primeiro fim de semana da conferência. Uma torrente de promessas de redução da poluição por parte de governos e grandes petroleiras provocou gritos de “greenwashing” no sábado (2/12), destaca o POLITICO.

Com a conferência do clima sendo realizada em um petroestado e presidida pelo líder de uma petroleira, é emblemática a entrevista à CNBC do CEO da ExxonMobil, Darren Woods, que também está na COP28. O executivo disse que a “declaração do problema” na qual os países precisam se concentrar na cúpula climática é a redução das emissões, em contraste com os apelos por um compromisso coletivo para eliminar progressivamente todos os combustíveis fósseis – como se não fossem esses a maior fonte do problema.

Não custa lembrar que recentemente a Exxon comprou a Pioneer uma petroleira concorrente, dobrando sua aposta nos fósseis. E que pesquisas feitas pela companhia nos anos 1970 já relacionavam a queima dos combustíveis fósseis com o aquecimento global. Ou seja, a Exxon sabia. O acordo para renováveis, as reivindicações e as frustrações quanto a compromissos formais de eliminação de combustíveis fósseis foram destaques de Folha, Reuters, Nikkei Asia, VOA, Guardian, France24, Business Today, Reuters, BBC, Guardian, Sky News, France24, New York Times e France24, entre outros.

 

ClimaInfo, 4 de dezembro de 2023.

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